segunda-feira, julho 23, 2007

Um dia perfeito


Há dias que começam sem a menor pretensão, um passeio combinado de última hora, você aceita para não ficar em casa curtindo dor de cotovelo e quando vê, simplesmente tem um dia perfeito como há muito tempo não lhe acontecia.

Paranapiacaba é uma vila de ferroviários linda, mágica, capaz de te levar para um tempo distante que você não conheceu, não presenciou, mas que consegue sentir a cada passo. A vontade de largar tudo e ir morar na vila é a primeira coisa que passa pela sua cabeça quando começa a avistar as casinhas de madeira, os jardins, o jeito manso de as pessoas falarem.

O dia ficou lindo, quente e azul, contrariando a época em que do nada a névoa desce e você precisa se empacotar todo para aguentar a friaca. Comida decente, água da fonte, trilha, mata, paz, sossego e ótimas companias. Um dia único, capaz de te tirar da rotina, dar um tempo nas angústias, no coração partido, um verdadeiro salvador - a beautiful day! São nestes momentos que descobrimos que se pode ser feliz com pouco. Uma sensação maravilhosa!

quinta-feira, julho 19, 2007

Antes do pôr-do-sol

Alguns filmes têm o imenso poder de falar muito sobre nós mesmos. É como se o roteirista soubesse exatamente como você se sente e colocasse isso na pele de dois atores bonitos de Hollywood, numa limosine que roda pelas ruas de Paris. O mais triste de isso tudo não é que você não é a atriz, nem que não vive em Hollywood com um bom salário e menos ainda que nunca foi a Paris. O mais deprimente é saber que o maldito roteirista escreve como se te conhecesse porque todo mundo é igual! Todo mundo sofre porque não tem o salário que quer, o emprego que quer, porque não tem a pessoa que gosta do lado ou porque não quer morrer. Pronto. Nascemos, vivemos, sofremos horrores por motivos que nos são universais e depois morremos. Grande, grandíssima merda!

Corta para mim, na limosine de Paris, falando com o motorista por que eu não quero falar com mais ninguém além do motorista!

"Fiquei surpresa de ver que eu lidava com a vida do mesmo jeito que faço agora. Eu tinha mais esperança e era mais ingênua, mas no fundo eu me sentia da mesma forma. Achei melhor parar de romancear as coisas. Eu vivia sofrendo o tempo todo. Tenho muitos sonhos que não têm nada a ver com a minha vida afetiva. Isso não me entristece, mas as coisas são assim. Ter alguém sempre por perto me sufoca. Só fico realmente feliz quando estou sozinha. Estar só é melhor do que sentir solidão ao lado de um amante.

Para mim, não é fácil ser romântica. Você começa assim ... mas depois de se dar mal algumas vezes, esquece seus devaneios e aceita o que a vida lhe dá. Não é verdade. Não me dei mal. Tive muitas relações sem graça. Não foram cruéis, me amaram, mas não havia uma ligação, uma emoção. Sabe o quê? Para mim, realidade e amor são contraditórios. É engraçado. Todos os meus ex-namorados estão casados. Os homens saem comigo, terminamos e eles se casam. Depois, ligam e agradecem porque lhes ensinei o que é o amor, os ensinei a amar e respeitar as mulheres. Quero matá-los. Por que não me pediram? Eu teria recusado, mas poderiam me pedir! Sei que é minha culpa. Nunca senti que era o homem certo.

O que significa isso? O amor de uma vida? O conceito é absurdo. Só nos completamos com outra pessoa. É sinistro! Sofri demais e me recuperei. Agora, não faço força alguma. Sei que não vai dar em nada. Parece que não ligo, mas estou morrendo por dentro. Estou amortecida. Não sinto dor nem excitação. Nem estou amargurada. Estou antes do pôr-do-sol".

E quando tudo parece bem...

vem minha má fortuna e joga tudo pelos ares. Fazer terapia há três anos deveria, ao menos, me impedir de cometer os mesmos erros, mas cada vez que cago e olho para o rastro o caminho é exatamente igual e eu me odeio por isso! E tudo isso por quê? Porque as pessoas têm uma arrasadora inabilidade para se comunicar e para fazer o que elas dizem que são capazes. Olha, certas pessoas me cansam e me incluo no pacote!

Quero ensaboar minha vida

terça-feira, julho 17, 2007

Dos problemas de se ter um blog


Olha só, dentre os motivos que me fizeram escrever um blog estão eu poder falar o que penso e escrever do jeito que quero, sem editores me torrando o saco, treinar uma escrita menos técnina que a linguagem jornalística pede - tipo "fora com o lead" - e aproveitar a porra do efeito catártico que escrever sobre as minhas tragédias pessoais me provoca. Porém, tudo isso fica muito difícil, quando pessoas lêem o que você escreve e vão pedir satisfações sobre o que você disse. Então, aos que me conhecem pessoalmente e acham que eu escrevo sobre vocês e se ofendem com isso, por favor, não leiam mais este caralhinho. E tenho dito!

quarta-feira, julho 11, 2007

Eu voltei ...

Cá estou, de volta a cidade grande. Cidade, paradinha sinistra, segundo Chacal! Tudo ainda passa pelos meus olhos em câmera lenta. Minha cama me deu torcicolo ontem e acordei com dor na lombar hoje. A da pousada era minúscula e eu não conseguia me mexer, acho que dormia e acordava do mesmo jeito.

Saímos de Parati na terça bem cedo. Na segunda, a cidade já não era mais a mesma! Não tinha nem metade do movimento dos dias anteriores. Estava sombria, melancólica, morta! Foi triste ver toda aquela estrutura sendo desmontada, desaparecendo, pedaço por pedaço, até não restar nada!

Os restaurantes voltaram a servir com a mesma lentidão anterior, mas agora com poucas pessoas quase não se notava, não incomodava.

No final, apesar da falta de educação dos ricos deu para aproveitar muita coisa, conhecer gente, escritores que vou querer ler um por um, ver Paulo José mediar uma mesa e participar de uma leitura com o Mário Bortolloto de deixar qualquer um completamente embasbacado e teve ele, claro, seu Guillermo Arriaga que disse uma das coisas mais apaixonantes da festa.

Sobre o ato de escrever, ele disse que começou quando soube que tinha uma infecção no coração e que provavelmente morreria naquela noite. Deitado, no hospital, olhou sua mão e pensou que na manhã seguinte, ela poderia ser um cadáver, como será um dia a mão de qualquer pessoa. Então prometeu a ele mesmo que, enquanto estivesse vivo aquela mão "acariciaria todas as peles que pudesse acariciar, quebraria todas as caras que pudesse quebrar e faria alguma coisa que me desse a oportunidade da trascendência"! Escrever é o que lhe permite transcender!

É isso. De volta a vida real, onde nem tudo pode ser dito ou feito com tamanha maestria. Outro dia me perguntaram o que eu queria ser quando crescesse? Eu não soube responder. Hoje, eu tenho certeza que quero ser feliz e acariciar todas as peles que eu tiver vontade, quero ser verdadeira comigo mesma, quero usar as palavras da melhor forma possível sem ser leviana, apenas coerente com o que penso, falo e sinto.

Eu queria entender tantas coisas, entender cada palavra que me dizem e o que elas de fato estão sendo ditas, queria não me deixar enganar, não me deixar seduzir. A cada tropeço, e tem sido um ano de muitos tropeços, com certeza eu me aprimoro mais um pouco, mas a impressão que tenho é que nunca sei o bastante e isso é uma merda!

sexta-feira, julho 06, 2007

O lado b Flip

Sorte nesta vida é saber que para as coisas ruins existem também coisas e pessoas muito, muito boas. E neste sentido, o pessoal da produção é um espetáculo a parte! Como eles não possuem nomes nos materiais e blá, blá, blá vou dar nome aos bois das pessoas encantadoras de Parati. Didito, Wilma e Tago (o casal mais doce e bacana neste lugar), Damien (o inglês bonitinho que conseguiu autografo do Arriga pra mim), Diego (o hipongo que cuida dos autores), Pablo (o garçom da sorveteria), Paulinho (o técnico de som liiindo e que tá dando mole), André (o cameraman da Globo), Dimitri (assistente de publicidade da Globo), Karina (voluntária da festa) e Karina e Rafael (jornalistas da Época casados e a mais pura tradução do que é ser carioca sangue bom)!

Em uma festa literária, o melhor que pode acontecer é descobrir um autor que você ainda não tinha ouvido falar. No caso, meu achado foi o poeta Chacal, que participou da única mesa que consegui ver até agora - Uivos com participação do cantor Lobão. Lá vai uma das melhores coisas que ouvi dele.

Rápido rasteiro
Vai ter uma festa
que eu vou dançar
até o sapato pedir pra parar.

Ai eu paro
tiro o sapato
e danç0 o resto da vida!

Chacal

terça-feira, julho 03, 2007

Notícias do fronte

Sumiço esporádico por 12 dias. Motivo? Freela na produção da Flip (Festa Literária Interncional de Parati). Olha, o que o sistema não nos obriga a fazer por dinheiro? Chego aqui achando que sentiria aquela maravilhosa sensação de derreter de tanto calor, voltaria bronzeada - o que é um absurdo devido a minha branquidão e que me divertiria horrores, apesar de estar trabalhando.

Desilusão, desilusão como cantou o poeta. Cara, o mundo é muito esquisito ainda mais quando você está em uma cidade pequena, prestes a receber convidados ilustres e a frase "você sabe com quem está falando - é proferida pelo menos dez vezes ao dia!

Pior são as pessoas que acham que porque você é de cidade grande vai querer sacanear com eles, então eles se acham no direito de te esculhambar antes, e de serem grosseiros, e de te olharem de cima pra braixo como se você fosse um imbecil que tivesse invadido a cidade alheia e tivesse que pagar por isso.

E a discussão sobre o nome da cidade ser escrito com y e não com i? Porra, Parati é um nome indígena (para = peixe) e (i = rio), ou seja, peixe de rio. Mas que raios querem colocar um Y em um nome indígena. Um monte de caiçara e indígenas na cidade e me vem com uma história desta? E a merda da sustentabilidade e da preservação da história do local que vá pro saco!

Aliás, qual história? Que caminho de ouro? Ouro carregado por escravos que tinham uma média de vida de apenas seis anos na cidade! E ninguém menciona isso!

Provincianismo é uma merda! Vips são uns bostas e eu caguei para todos eles. Cara, no final das contas vai todo mundo putrefar do mesmo jeito. As bactérias que vão comer meu corpo, quando eu partir desta para sabe-se lá onde, são as mesmas que vão comer este bando de cuzão! Terei que fazer uma ação humanista aqui antes de ir embora e tenho dito!