quarta-feira, maio 17, 2017

Das lições de um bom divã


Sabe aquele acontecimento que não te dá paz, quando volta à lembrança. E toda vez que passa por ele, você finge que não está ali porque vai doer. Pois é, não adianta fingir. Funciona por um tempo, mas não cura.

Eu me mudei de São Paulo em 2007 por conta de um rompimento afetivo. De repente, a maior cidade da América Latina ficou pequena demais para nós dois. Araraquara foi meu sanatório - a cidade do Caibar era propícia, né?

Em 2010, quando eu voltei à capital, o que havia ficado escondido, por tanto tempo, deu as caras e foi como um trator. Mais uma vez, resisti. Até que não deu mais.

Então, eu deitei no divã de Sigmund, a primeira vez que fiz isso, e disse em alto em bom som: "eu odeio ter sido rejeitada". Repeti a palavra rejeitada até ela simplesmente descer sem travar pela minha garganta. 


E eu saí de lá curada! Dez anos depois, eu estava pronta para cruzar qualquer esquina, me encontrar com ele e seguir adiante. 

Eu estou apaixonada. Aparentemente mais um fracasso - sou destas! É muito difícil para mim assumir esse tipo de sentimento. Porque eu sou racional e paixão é um sentimento que eu detesto. O controle é meu sempre, não quando estou apaixonada!

Estava meio angustiada, meio triste, meio entediada. Então, numa conversa sem grandes pretensões, eu apenas entreguei a toalha e disse: “eu tô sofrendo, porra! Eu estou sofrendo porque acho que estou gostando de alguém, não estou sendo correspondida e eu não sei lidar com essa merda toda"! 

Ufa!

Tenho certeza que isso passa, da mesma forma como já passou tantas outras vezes, mas agora eu sei que vai ser mais rápido. Quem sabe, amanhã mesmo! 

Também vou me permitir chorar. Não mais que três dias. Oscar Wilde dizia que sofrer por amor mais que três dias é falta de educação. Sou uma moça educada!

Então chorarei hoje, escrevendo isso, e talvez amanhã e depois. É tudo o que posso dar, é o que eu estou me permitindo. 

No mais, seguimos, porque como canta Gal, respeito muito minhas lágrimas, mas ainda mais minhas risadas! 

quinta-feira, março 02, 2017

Gritaram-me gorda e eu respondi

Ontem, estava eu passando pelo metrô Anhangabaú, quando parei para comprar uma humilde barrinha de Galak a cinco mangos. Comprei e guardei. Dez passos à frente, tinha um mendigo, que observou a cena e me pediu dinheiro. Eu não tinha nada de trocado, então, simplesmente segui andando. Então escuto: "desse jeito você vai ficar mais gorda"!

Sabe quando o tempo para por alguns segundos? Eu pensei que não era possível que um ser humano que nunca me viu na vida, na sarjeta, se sentisse no direito de falar qualquer coisa para mim sobre o meu corpo. Quem perguntou? Quem pediu a opinião? Quem? Quem? Quem? 
Dificilmente eu respondo, mas desta vez saiu. "E você seguirá mais miserável"!

O miserável, é claro, não se referia ao fato de ele ser um pária social. É miséria de ser humano, saca? Me chamarem de gorda não é xingamento há muito tempo. Se tenho algo a agradecer ao meu primeiro psicólogo, é minha autoestima. Sim, às vezes eu me sinto uma titica, mas isso nunca me é inculcado por alguém. Porque eu me conheço bem para saber que ser uma mulher gorda não é a única coisa que me define. Tem toda uma história de alegrias e tristezas que compõe essa pessoa aqui. E miséria humana não é uma delas! 
Sou gorda, sim. GORDA, GORDA, GORDA. Falemos em alto e bom som. Percamos o medo dessa palavra e sigamos comendo o que a gente bem quiser, enquanto a saúde permitir. Porque a vida é curta e eu quero mesmo aproveitá-la!