segunda-feira, fevereiro 12, 2007

Doces lembranças


Estou com uma gripe medonha e uma infecção na garganta que, desde que me conheço por gente, sempre foi meu calcanhar de Áquiles. Lembro de ser pequena e minha mãe, várias vezes, sair comigo, de madrugada, atrás de médico porque a febre estava muito alta. Eu odeio ficar doente e, até hoje, quando a garganta fica infeccionada, preparo-me para o pior. Sempre é um sofrimento. Sempre tudo igual. Mas desta vez foi diferente.

Ontem, quando acordei sem voz, lembrei que nestas ocasiões, eu me matava de comer Danoninho e tinha que ser o que vale por um bifinho, do outro eu não gostava. A garganta ficava tão fechada que pouca coisa passava, e como eu estava doente, podia fazer certas exigências! Naqueles tempos, eu virava a verdadeira e única amiga do rei. Era o que me distraía, era a única coisa boa em meio à febre, tosse, dor, malemolência e estas chatices todas.

Pois bem, minha mãe, para melhorar a garganta, tinha o hábito de amarrar um lenço embebecido em álcool no meu pescoço, dizia ela que melhorava. Nunca achei fundamento pra isso, mas mãe é mãe e, mesmo depois de grande, ela continuava fazendo eu pagar este mico de andar com um lenço no pescoço. Detalhe, era lenço de assoar nariz, nada de cachemere que me deixasse ao menos chique!

Um belo dia, devia ter meus 14 anos, estava sozinha em casa, doente, com o bem dito lenço no pescoço, cara de quem havia morrido, mas tinham esquecido de enterrar, quando toca a campanhia. Levantei-me meio tonta e fui ver quem era. Nem era pra gente, o cara estava atrás da vizinha que havia ficado de vender umas rifas e queria deixar um recado, pois não havia ninguém na casa dela. Peguei o telefone dele, ele agradeceu com um "obrigada, broto".

Sim, uma gíria velha até mesmo para a época que eu tinha 14, mas caras, aquilo me fez tão bem, mas tão bem, que eu, completamente grogue de amoxilina, achei que aquele era o cara mais lindo e gentil do mundo.

Pois bem, entre ontem e hoje, todas estas lembranças voltaram na minha cabeça e foi como se eu estivesse ido até lá, até aquela época e voltado. Senti o gosto do Danoninho na boca, senti o rosto corar ao lembrar do "broto".

O Danoninho eu ainda posso comprar em homenagem aos velhos tempos. Quanto ao broto daquela tarde, ainda tenho fé de que existem por aí homens gentis capazes de fazerem com que a gente se sinta a mulher mais bonita do mundo, mesmo enfrentando um bando de vírus na na garganta!

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