Hoje, aos 32 anos, os filhos ainda não vieram e o único estrangeiro que peguei foi um argentino - eu adoro argentinos! Porém, as cidades, ah, as cidades. Estas foram muitas, desde os meus 19 anos, e tenho certeza que outras tantas virão!
Tudo bem, ela não são as europeias dos meus sonhos de menina, mas foram cidades que me acolheram e deixaram boas lembranças pra contar.
Bauru - a cidade sem limites
Aos 19, saí de casa pela primeira vez. Fui para Bauru estudar jornalismo. Vivi três anos na cidade de Edson Celulari, Pelé e do astronauta brasileiro - tem que falar das pieguices, né? O fato é que Bauru sempre será meu melhor parâmetro de liberdade e felicidade. As melhores risadas, os melhores amigos, o céu mais azul de inverno que já vi na vida, as noites mais estreladas.
Os lençóis de SP
Bauru me deu também o primeiro marido, hoje ex-marido, que vivia na vizinha Lençóis Paulista, onde passei seis meses. Bem, na época, meados de 2001, eu só via coisas ruins na cidade. As pessoas sempre me olhavam estranho em qualquer lugar que eu fosse; todo mundo, na primeira oportunidade que tinha, perguntava sem pestanejar de onde eu era; qual o sobrenome da minha família e por que eu usava chapeu. Bom, até onde eu saiba, as pessoas usam chapeu para se protegerem do sol. O problema é que os meus não eram de cowboy. Daí a estranheza.
Jequices que eu abomino até hoje, à parte, foi lá que eu descobri o que é ter e ser parte de uma família de verdade, tal qual cantam Os Titãs. É ouvir a música e lembrar de quando eu era casada, dos domingos na casa dos sogros, dos sobrinhos, das cunhadas malucas. Foram bons tempos.
A morada do sol
Há três anos, fui morar em Araraquara. A cidade, na minha cabeça, serviria como uma espécie de sanatório para um coração destroçado. Foi lá que eu talvez mais tenha chorado na vida. Vi o quanto as pessoas podem ser egoístas e endureci meu coração o máximo que pude.
Das coisas boas, a morada do sol também me presenteou com alguns bons amigos, que quero ter sempre comigo. Também foi lá que fiz a louca e tal qual um Dom Quixote, resolvi peitar alguns grandes moinhos. Eles ainda estão de pé, assim como eu. Servem para mostrar que dignidade e convicção fazem toda a diferença em nossas vidas.
A cidade também me deu mais sol e calor que qualquer outro lugar do mundo. Me deu também Zé Celso, a Semana de Teatro Luiz Antônio, o Araraquara Rock e os Ramones, além de uma das melhores trepadas da minha vida, com um cara de São Carlos, mas quem se importa?
Pés vermelhos
Daí eu fui para em Tatuí, onde passei uns 20 dias. Fazia de um tudo no jornal local, trabalhava 12 horas por dia e ganhava muito pouco. Não deu pra mim! Apesar de achar a cidade pouco boemia, pra um local que tem como principal atração um Conservatório Musical, a praça era a mais animada das que eu já vi à noite, e eu comi a melhor torta de banana da minha vida, no Café Canção, um lugar adorável.
Foi também em Tatuí que eu conheci a Sara, a melhor dona de pensão para moças de fino trato do mundo. Sábia, divertida, generosa, maluca. Lembro da noite que as duas problemáticas tomaram seus respectivos ansiolíticos da noite e, ao invés de ficarmos calmas, fizemos a louca na casa, atasanando a Adriana, nossa colega de quarto que tinha o cabelo mais comprido que eu já vi na vida. Bem dita seja tu, Tatuí e sua Sara!
Às voltas com os sulistas
Minha última empreitada foi Americana - Santa Bárba d'Oeste (SBO). Fiquei hospedada na casa do amigo Fernando (Uniiiiiiiiii), quem arrumou o trampo pra mim no Diário de SBO (lê-se ESBÓ). A cidade foi a primeira e única fundada por uma mulher - a dona Margarida. No jornal, eu conheci o Chico, fotógrafo bacana das antigas, que trabalhou no Notícias Populares - é claro que eu adorei ele!
Esbó é também a cidade do primeiro carro brasileiro , a Romi-Isetta (Romiseta), cidade natal que Rita Lee nega até a morte; povoada por americanos sulistas - isso dá medo.
Foi em SBO que tive a chance de me sentir num filme do Tarantino, quando Chico e eu fomos fazer uma matéria, num dia infrnal de quente e cruzamos com um boteco, que tocava AC-DC bem alto, enquanto uma coroa, vestida de vermelho e com bota de couro até o joelho jogava sinuca.
Estava tão quente que eu pensei estar alucinando. Pedi pro Chico fotografar a cena, mas ele disse que a gente poderia levar um tiro. Ficou só na lembrança!
Em Americana, os grandes lances eram dois: a rotatória "Stop Four" em quatro direções e a Praça Tiradentes.
O prefeito, querendo inovar, criou um sinal de trânsito, escrito em inglês e que não existe nem nos Estados Unidos. Nem adianta explicar, é só olhar a imagem. Quem vem pelas quatro ruas, dá de cara com a rotatória e para. É um "stop" pra todo mundo. Passa quem for o mais corajoso!
Por fim, a Praça Tiradentes, com um gramado impecável, que todos os dias me convidava para dar uma descansadinha deitada na grama. Era bom isso, me deixava feliz, me conectava com Gaia (ai, que riponga) e devolvia minhas energias.
Algumas cidades depois, me vejo novamente em Sampa. Muita gente acha maluquice estas minhas andanças, afinal, a maioria gostaria de estar em São Paulo, mas veja bem: Sampa é a cidade onde nasci, é onde estão minhas raízes, as pessoas e coisas que mais amo, é para onde eu digo que voltarei quando for a hora.
Agora diz ai, se eu não tivesse esta sede de beber o mundo, quantas coisas divertidas, pitorescas, e quantas lições de vida eu não teria perdido? Claro que é cansativo. Às vezes penso que deveria ter nascido feito caramujo: somente com uma mala nas costas, com roupas, livros e CDs, sem cão nem gato, que dão muito trabalho. Não é fácil, minha vida não é fácil, mas eu aprendi a me divertir com tudo isso!
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