Pra quem não sabe, sou umbandista. Fui criada dentro do kardecismo, acredito em reencarnação, no livre arbítrio, na lei do retorno. Durante um período treva da minha vida, estive muito próxima ao budismo, religião à qual devo grandes aprendizados. Entreguei-me à umbanda, aceitei a missão de me tornar médium dentro de um terreiro, porque os tambores tocam alto dentro de mim. Tão alto que não resisto ao seu chamado.
A primeira gira que tomei foi na casa do meu sempre pai de santo José Francisco, e foi o caboclo da minha eterna mãe de santo, Andréa quem me presenteou. Decidi ali, que não queria mais passar a vida sem aquela sensação. Mas mudei de cidade, percorri outras casas e, há um ano, trabalho na Terreiro de Umbanda Caboclo Pena Branca.
Lá, temos estudos, lemos o Evangelho Segundo o Espiritismo e o Zé Ambrósio, responsável por conduzir a leitura e reflexão, no início de setembro, é quem me inspira a escrever esse texto. “Deus não perdoa”! Ele disse isso de forma categórica. E tudo pra mim fez sentido.
Todos nós conhecemos a lei do retorno, se não a espiritual, pelo menos já ouvimos falar da Terceira Lei de Newton que diz que para toda ação, há uma reação de mesma força, mas em sentidos opostos. Se Deus perdoa, por que nossas ações retornam? Por que quando fazemos o bem, recebemos o bem e quando fazemos o mal, recebemos o mal?
Se Deus de fato perdoasse, por que precisaríamos de uma lei de retorno de nossas ações? Ele simplesmente perdoaria e pronto, seguiríamos com nossas vidas. Mas é o contrário, uma hora, somos cobrados, porém, diferente da Lei de Newton, nós não sabemos quando!
Quer outra prova de que Deus não é clemente aos nossos erros? “Pedro, embainha tua espada, quem com ferro fere, com ferro será ferido”.
A lei da causa e dos efeitos está ai para nos lembrar que, se amarmos ao próximo, como a nós mesmos, só colheremos bons frutos. Se não julgarmos, se não matarmos, se tratarmos a todos com respeito, não há o que temer. Estamos aqui pra isso: aprender. Mas se fizéssemos tudo ao contrário e Deus nos perdoasse, de que forma aprenderíamos? Simples, não aprenderíamos e erraríamos constantemente.
Depois desse dia, fui tomada de um alívio absurdo! Sei que magoei algumas pessoas, mas isso nunca foi intencional e em alguns casos, creio que já fui punida. Porém, deliberadamente jamais desejei o mal a quem quer que fosse, mesmo aos que me feriram. Confesso que perdoar sempre foi difícil pra mim, na minha cabeça eu apenas deveria apagar o episódio e as pessoas envolvidas. Era meu jeito de perdoar, apenas esquecer o assunto, ou tentar fazer isso. Hoje, me sinto à vontade para não perdoar mais ninguém!
Eu apenas acredito, com toda a minha força, com toda a minha fé, que Deus, que o universo providenciará o aprendizado e que o que fizeram pra mim, retornará. Não pelas minhas mãos, mas pela força de algo que está acima de todos nós. É claro, ainda não sou iluminada o suficiente, então eu peço sim que quando a pessoa estiver pagando por algo que fez a mim, que ela se lembre do ocorrido. Tudo bem, não deveria fazer isso, mas é um mundo de provas e expiações, não sou perfeita, ainda.
Depois da aula, duas coisas muito, muito boas ocorreram comigo. Fui convidada para ser uma das oradoras da turma de Promotoras Legais Populares e indicada a uma premiação jornalística. Já disse aqui sobre o
bullying sofrido na infância e adolescência. No último dia de aula de Ensino Fundamental, por exemplo, tudo o que desejei era ser a
“Carrie, a estranha” e atear fogo na escola com aqueles infelizes todos dentro. Não deu certo, eu não tinha os poderes da Carrie. Eu não sei como estão hoje cada uma daquelas almas que fizeram da minha infância e adolescência um inferno, mas eu, eu estou exatamente onde queria estar. Eu sou reconhecida pelas pessoas com as quais eu me importo e nunca na minha vida eu imaginei que um dia seria convidada a ser oradora de qualquer coisa. E fui, alguém acha que eu as represento bem e isso é uma honra para a garota gorda, CDF, de óculos que ainda existe aqui e que só se fortaleceu!
Sobre a premiação jornalística, saberei se sou a ganhadora ou não nessa noite, e essa tem um gosto muito especial. Porque eu saí do lugar para onde escrevi a matéria por supostamente não ter conseguido fazer da publicação uma revista técnica, mas eu tentei. Porém, no meio do caminho havia uma pedra. Eu terminei essa matéria dentro de um quarto de hospital, operada do apêndice. É uma premiação destinada a publicações técnicas. Eu não quero nem saber como está a pedra do meio do caminho, a minha recompensa veio em forma de justiça. E se vieram meus louros por boas ações, tenho certeza que cada um vai ter aquilo que merece. De minha parte, só posso dizer que estou feliz da vida, satisfeita e contente por ser a pessoa que eu sou. Mais que isso, me sinto merecedora e recompensada por ter agido sempre baseada nos meus princípios. Obrigada, Deus. Obrigada, universo!
E toma aqui pra vocês, que eu não sou obrigada!