terça-feira, outubro 29, 2013

Eu digo não à terceirização do trabalho

No meio sindical, muito tem se comentado sobre o PL 4330 que legitima a precarização do trabalho, por meio da chamada terceirização. No setor da comunicação, vivemos isso com a pejotização, que vem acabando com o trabalho digno dos jornalistas. Esse final de semana, participei de um seminário jurídico e um dos assuntos abordados foi o projeto de lei. 

Em 74, a Lei 6019, passou a permitir a terceirização no caso do trabalho temporário, serviços de vigilância, de conservação e limpeza. Foi perguntado porque os sindicatos não se mobilizaram nessa época, ou quando a terceirização, se intensificou a partir da adoção do toyotismo na década de 80. A pessoa enrolou e não respondeu. Então respondo eu. 

Qual o perfil dos vigilantes de bancos? Qual o perfil do trabalhador de conservação de limpeza, ou que vive de trampos esporádicos em indústria, quando há demanda, por exemplo, na páscoa? Exceto pelos cargos de vigilantes, que são, em sua maioria homens pobres e sem estudo, os outros dois perfis são formados por mulheres, negras e pobres. Quem se importa com essa gente?

Fiquei pensando nisso durante todo o seminário e não saiu da minha cabeça o poema atribuído a Maiakóvski, mas não estou certa se é mesmo dele. Diz assim:

"Quando os nazistas levaram os comunistas, eu calei-me, porque, afinal, eu não era comunista. Quando eles prenderam os sociais-democratas, eu calei-me, porque, afinal, eu não era social-democrata. Quando eles levaram os sindicalistas, eu não protestei, porque, afinal, eu não era sindicalista. Quando levaram os judeus, eu não protestei, porque, afinal, eu não era judeu. Quando eles me levaram, não havia mais quem protestasse".

Quero ver as centrais e sindicatos derrubarem essa merda agora. Não se importaram antes porque nunca acharam que fosse ocorrer com eles. Enquanto as mulheres estavam tendo o seu trabalho precarizado, não era da conta de ninguém. Agora o problema virou de todos e vai ser difícil derrubar isso.



terça-feira, outubro 22, 2013

Apartheid das mulheres não!

Amanhã, as feministas estarão na Câmara de Vereadores para audiência pública sobre o PL 138/2011, que prevê ônibus exclusivos para mulheres rosas - que amor, só que não - em horários de pico para evitar o assédio sexual sofrido por todas nós diariamente.

Segregar não é solução! A solução é educar os homens para que não nos tratem como objetos com os quais podem fazer o que bem quiserem, o que inclui assediar/estuprar. O espaço público é nosso!


terça-feira, setembro 24, 2013

Deus não perdoa e eu também não!

Pra quem não sabe, sou umbandista. Fui criada dentro do kardecismo, acredito em reencarnação, no livre arbítrio, na lei do retorno. Durante um período treva da minha vida, estive muito próxima ao budismo, religião à qual devo grandes aprendizados. Entreguei-me à umbanda, aceitei a missão de me tornar médium dentro de um terreiro, porque os tambores tocam alto dentro de mim. Tão alto que não resisto ao seu chamado. A primeira gira que tomei foi na casa do meu sempre pai de santo José Francisco, e foi o caboclo da minha eterna mãe de santo, Andréa quem me presenteou. Decidi ali, que não queria mais passar a vida sem aquela sensação. Mas mudei de cidade, percorri outras casas e, há um ano, trabalho na Terreiro de Umbanda Caboclo Pena Branca.

Lá, temos estudos, lemos o Evangelho Segundo o Espiritismo e o Zé Ambrósio, responsável por conduzir a leitura e reflexão, no início de setembro, é quem me inspira a escrever esse texto. “Deus não perdoa”! Ele disse isso de forma categórica. E tudo pra mim fez sentido.

Todos nós conhecemos a lei do retorno, se não a espiritual, pelo menos já ouvimos falar da Terceira Lei de Newton que diz que para toda ação, há uma reação de mesma força, mas em sentidos opostos. Se Deus perdoa, por que nossas ações retornam? Por que quando fazemos o bem, recebemos o bem e quando fazemos o mal, recebemos o mal?

Se Deus de fato perdoasse, por que precisaríamos de uma lei de retorno de nossas ações? Ele simplesmente perdoaria e pronto, seguiríamos com nossas vidas. Mas é o contrário, uma hora, somos cobrados, porém, diferente da Lei de Newton, nós não sabemos quando! Quer outra prova de que Deus não é clemente aos nossos erros? “Pedro, embainha tua espada, quem com ferro fere, com ferro será ferido”.

A lei da causa e dos efeitos está ai para nos lembrar que, se amarmos ao próximo, como a nós mesmos, só colheremos bons frutos. Se não julgarmos, se não matarmos, se tratarmos a todos com respeito, não há o que temer. Estamos aqui pra isso: aprender. Mas se fizéssemos tudo ao contrário e Deus nos perdoasse, de que forma aprenderíamos? Simples, não aprenderíamos e erraríamos constantemente.

Depois desse dia, fui tomada de um alívio absurdo! Sei que magoei algumas pessoas, mas isso nunca foi intencional e em alguns casos, creio que já fui punida. Porém, deliberadamente jamais desejei o mal a quem quer que fosse, mesmo aos que me feriram. Confesso que perdoar sempre foi difícil pra mim, na minha cabeça eu apenas deveria apagar o episódio e as pessoas envolvidas. Era meu jeito de perdoar, apenas esquecer o assunto, ou tentar fazer isso. Hoje, me sinto à vontade para não perdoar mais ninguém!

Eu apenas acredito, com toda a minha força, com toda a minha fé, que Deus, que o universo providenciará o aprendizado e que o que fizeram pra mim, retornará. Não pelas minhas mãos, mas pela força de algo que está acima de todos nós. É claro, ainda não sou iluminada o suficiente, então eu peço sim que quando a pessoa estiver pagando por algo que fez a mim, que ela se lembre do ocorrido. Tudo bem, não deveria fazer isso, mas é um mundo de provas e expiações, não sou perfeita, ainda.

Depois da aula, duas coisas muito, muito boas ocorreram comigo. Fui convidada para ser uma das oradoras da turma de Promotoras Legais Populares e indicada a uma premiação jornalística. Já disse aqui sobre o bullying sofrido na infância e adolescência. No último dia de aula de Ensino Fundamental, por exemplo, tudo o que desejei era ser a “Carrie, a estranha” e atear fogo na escola com aqueles infelizes todos dentro. Não deu certo, eu não tinha os poderes da Carrie. Eu não sei como estão hoje cada uma daquelas almas que fizeram da minha infância e adolescência um inferno, mas eu, eu estou exatamente onde queria estar. Eu sou reconhecida pelas pessoas com as quais eu me importo e nunca na minha vida eu imaginei que um dia seria convidada a ser oradora de qualquer coisa. E fui, alguém acha que eu as represento bem e isso é uma honra para a garota gorda, CDF, de óculos que ainda existe aqui e que só se fortaleceu!

Sobre a premiação jornalística, saberei se sou a ganhadora ou não nessa noite, e essa tem um gosto muito especial. Porque eu saí do lugar para onde escrevi a matéria por supostamente não ter conseguido fazer da publicação uma revista técnica, mas eu tentei. Porém, no meio do caminho havia uma pedra. Eu terminei essa matéria dentro de um quarto de hospital, operada do apêndice. É uma premiação destinada a publicações técnicas. Eu não quero nem saber como está a pedra do meio do caminho, a minha recompensa veio em forma de justiça. E se vieram meus louros por boas ações, tenho certeza que cada um vai ter aquilo que merece. De minha parte, só posso dizer que estou feliz da vida, satisfeita e contente por ser a pessoa que eu sou. Mais que isso, me sinto merecedora e recompensada por ter agido sempre baseada nos meus princípios. Obrigada, Deus. Obrigada, universo!

E toma aqui pra vocês, que eu não sou obrigada!

quarta-feira, agosto 21, 2013

Minha história com o Raul

Hoje, faz 24 anos que o Raulzito foi arregaçar em alguma outra dimensão. Era um domingo, eu brincava com umas vizinhas e a prima delas, um pouco mais velha lamentou a morte dele. Na ápoca, eu o conhecia mais pela figura que me chamava atenção do que pelas músicas. Achava divertidas, mas entendia quase nada. Ai, lá pros 13 anos, sofrendo toda espécie de bullying que uma criança gorda, de óculos e CDF podia sofrer, eu redescobri o Raul nessa música. De certa forma, sobrevivi aquela merda toda com a ajuda dele! E acho que foi uma boa companhia!

sexta-feira, agosto 09, 2013

O meu homem

Eu dou casa, comida e roupa lavada para o homem, com a cara do Benício del Toro, que me cantar e fazer o que promete nessa música. Acho uma troca justa!

terça-feira, julho 23, 2013

Não há no mundo

Eu sou incapaz de dizer não a ele, mesmo sabendo que ele merecia todas as negativas do mundo.

Eu não consigo dizer não porque não há no mundo quem me conheça tão bem. Não há no mundo quem fale comigo como ele. Não há no mundo quem me toque como ele. Não há no mundo quem me faça rir como ele. Não há melhor companhia no mundo melhor que a dele.

Não houve no mundo quem tenha me magoado como ele e isso simplesmente não importa, porque quando ele me chama, embora minha mente diga "não vá", todo o resto do meu corpo só que se juntar ao dele.




quinta-feira, julho 18, 2013

Todo poder às mulheres

São tempos sombrios para nós mulheres! Em pleno século 21, ainda nos debatemos e nos desgastamos com questões que há muito já deveriam estar esclarecidas e bem resolvidas. O aborto é um delas. Se o óbito é oficialmente decretado quando cessa a atividade cerebral, é lógico que a vida só seja considerada iniciada a partir do momento em que o cérebro é formado, após o terceiro mês de gestação.

Essa é a lógica utilizada em países desenvolvidos, onde a interrupção da gravidez é legal. A relação entre leis mais flexíveis e desenvolvimento social pode ser observada no Mapa da Legislação sobre o Aborto, que o Center for Reproductive Rights (Centro de Direitos Reprodutivos), ONG sediada em Nova York, montou ao pesquisar a legislação em 196 países e estados independentes. O mapeamento divide o planeta em cinco categorias vermelho, vinho, laranja, azul e verde. Pela ordem, vai das leis mais duras às mais flexíveis. O aborto, no Brasil, é tratado como no Haiti, no Paraguai e no Burundi. Vale lembrar, somente México, Cuba e mais recentemente o Uruguay – todo meu amor ao seu Pepe Mujica – possuem legislações abrangentes sobre o aborto na América Latina. 


Sendo assim, figuramos no bloco vermelho ao lado das 68 nações mais pobres, onde vivem 25,9% do povo global. Em suma, apesar dos avanços econômicos e sociais, dos últimos anos, estamos alinhados ao atraso quando o assunto é direito sexual e reprodutivo, direitos das mulheres em decidir sobre o próprio corpo para sermos mais exatas.

Em geral, as nações que criminalizam o aborto são as que exibem o pior desempenho social, os maiores índices de corrupção e violência e também os mais altos níveis de desrespeito às liberdades individuais. Ficou curiosa? Veja os dados aqui.


Para piorar a situação, o crescente poder da denominada “bancada evangélica” promete grandes estragos aos pífios direitos conquistados pelas brasileiras no que tange planejamento familiar e reprodutivo. Basta ver a proposta do famigerado Estatuto do Nascituro, que dá a um conjunto de células humanas direitos e obrigações absolutas ao Estado brasileiro, algumas delas superiores aos direitos das mulheres. Mais informações sobre o projeto de lei que deve cair, por ser inconstitucional, leia aqui



A última de Feliciano
E a dança com um passo para a frente e dois para trás não cessa. Essa semana, Senado e Câmara aprovaram o Projeto de Lei da Câmara dos Deputados (PLC) 03/13, que determina o atendimento imediato em hospitais das vítimas de violência sexual. Ótimo, nós esperamos mesmo que médicos e profissionais da saúde tenham mais sensibilidade que os cães do Estado para lidarem com a situação, mas eis que o demônio travestido de pastor, Marco Feliciano, pediu o veto de dois trechos. Um refere-se ao termo "profiilaxia" e o outro sobre o "fornecimento de informações às vítimas sobre os direitos legais e sobre todos os serviços sanitários disponíveis".

Para o deputado, o fornecimento de informações deve ser vetado, pois não cabe a hospitais oferecer orientação jurídica às vítimas. “Essa é uma responsabilidade das delegacias de polícia e autoridades competentes.” Que ele seria contra o termo profilaxia (que abre uma brecha para a realização de abortos) poderíamos imaginar, mas indicar o veto ao fornecimento de informações é nos mandar direto para a idade das trevas. Quer vomitar? Leia as pérolas do pastor do apocalipse aqui.

Por um mundo com mais mulheres no poder
Esse tipo de cenário é o que me fez adotar a postura de que mulher tem que votar em mulher. Claro, não é mulher tipo a Kátia Abreu, mas nós precisamos desesperadamente de mulheres no poder!

Mulheres dispostas a brigar para que nossos direitos sejam respeitados. Para que tenhamos acesso a planejamento familiar e para que possamos SIM interromper uma gravidez, quando julgarmos não haver condições econômicas, sociais ou psicológicas para sermos mães.  Causas que estão muito além do que os motivos para os quais a interrupção ainda é permitida no Brasil.

Precisamos de mulheres no poder dispostas a sanar o problema da falta de creches em todo o país e que afeta dramaticamente a condição financeira das famílias, bem como coloca em risco nossas crianças, que ficam sozinhas ou sob os cuidados dos irmãos maiores para que os pais possam trabalhar.

Precisamos de mulheres dispostas a peitarem os poderes judiciário e executivo, no que tange o cumprimento da Lei Maria da Penha e que sofre resistência machista por parte dessas instâncias que NÃO cumprem a lei – o que aconteceu com dona Luana Piovani ocorre TODOS os dias dentro de DDMs, fóruns, varas familiares etc! 

Precisamos de mulheres no poder dispostas a defender o SUS, a saúde pública, gratuita e de qualidade, para que nossos índices de mortalidade infantil diminuam e nosso saneamento básico nos encha de orgulho e não mate mais gente por diarreia! 

É preciso eleger mulheres comprometidas com essas causas e dispostas a enfrentarem o patriarcado em prol da liberdade e qualidade de vida para todas as mulheres!

Maioria eleitoral, mas sem representatividade
Em 2010, tive a oportunidade de trabalhar como assessora de uma candidata ao cargo de deputada federal. Durante a campanha, foi visível a dificuldade em superar o fato de que, apesar de ser uma mulher extremamente preparada, doutora, líder feminista na cidade, vereadora bem votada anteriormente e eleita a primeira presidente mulher da câmara, muitos homens indicavam que sua maior dificuldade na campanha seria superar o fato de ser mulher. Só faltou ela ter que se desculpar por carregar uma vagina.  Várias foram as vezes em que a imaginei soltando: “desculpa, gente, é só minha vagina, não é a esfinge olhando pra vocês e os desafiando com um belo decifra-me ou devoro-te”!

A verdade é que apesar de haver cotas para mulheres integrarem as esferas de poder, há uma imensa dificuldade dos partidos em cumpri-las. Mais que isso, sempre que o tema é debatido, é comum vermos homens justificando tal dificuldade como falta de preparo e de interesse das mulheres pela vida política. Nós sabemos que isso não é verdade.

A carga de trabalho, dentro e fora do espaço doméstico, e a falta de participação dos homens na última instância são alguns dos percalços que dificultam a entrada das mulheres na política. Soma-se a isso o fato de que dentro dos partidos, em eventos de formação, por exemplo, as mulheres ainda são deixadas fora do protagonismo dessas atividades. A elas cabem tarefas como organização, limpeza e providências quanto à alimentação. Essa é uma realidade encontrada inclusive dentro de partidos de esquerda que deveriam adotar uma postura mais revolucionária e de quebra de paradigmas. Aqui um desabafo: partidos de esquerda não sabem lidar com questões de gênero e raça. Colocam a luta de classes acima de tudo e não resolvem nem uma coisa, nem outra. Quem já leu “O poder do macho”, da gloriosa Heleieth Saffiotti sabe do que estou falando.

Participação das mulheres na política nacional
Desde que as cotas foram estabelecidas, em 1995, os partidos e coligações foram obrigados a reservar para as mulheres 20% das candidaturas disponíveis, mas os resultados foram insatisfatórios. Em 1997, a reserva para as candidaturas femininas subiu de 20% para 30%, mas como a lei obrigava os partidos a “reservar” as vagas, eles entenderam que não estavam obrigados a efetivamente preenchê-las. PICARETAS! 

Na verdade, o estabelecimento de cotas para mulheres nas eleições brasileiras foi reflexo de um movimento mundial. Ainda em 1995, a Organização das Nações Unidas (ONU) realizou a 4ª Conferência Mundial sobre a Mulher. No documento final, os países se comprometeram a executar políticas que favorecessem a igualdade entre homens e mulheres. As cotas nas eleições ganharam o mundo. Houve avanços dignos de aplausos, como no México, onde a participação das mulheres no Parlamento saltou de 14,2% para 36,8% em apenas 15 anos. Na França, de 6,4% para 26,9%.

Porém, o Brasil continua sendo uma vergonha. Nas eleições do ano passado, 13,3% dos vereadores eleitos foram do sexo feminino. Em Florianópolis e Palmas, nenhuma mulher se elegeu, apesar de as mulheres serem 51% da população brasileira e 52% do eleitorado.

Segundo dados da União Interparlamentar (IPU), de 190 países, o Brasil ocupa a 158ª posição (8,6% de mulheres) em ranking baseado na composição parlamentar. Na política, as mulheres do Iraque (25,2%), do Afeganistão (27,7%) e de Moçambique (39,2%) estão em melhor situação do que as brasileiras.

Como curiosidade, vale mencionar que a Câmara dos Deputados é formada por 513 políticos dos quais somente 46 são mulheres. No senado, de 81 políticos, apenas dez são mulheres, sendo que Marta Suplicy e Gleisi Hoffmann estão licenciadas. Chega a ser constrangedor, mas explica muita coisa! Como é que tão poucas mulheres podem dar conta de demandas tão importantes como o direito ao aborto, ou a queda do Estatuto do Nascituro? São questões muito particulares do universo feminino e pelas quais sempre sofremos, fomos responsabilizadas, criminalizadas. Homens não podem deliberar sobre esses assuntos. Homens têm que levar adiante o que nós definirmos para essas pautas!

Desde 2010, adotei como conduta política votar apenas em mulheres. Mulheres que eu acredito que tomarão essas lutas para elas. Mulheres que podem colocar a bancada evangélica em seu lugar, de onde nunca deveria ter saído: de dentro das igrejas e somente lá dentro, afundando na lama de seus próprios pecados. Em 2014 teremos novas eleições, parece distante, mas está ai. Comecemos a preparar nossas lideranças mulheres para o pleito, comecemos agora a disseminar essa ideia. Precisamos de mulheres preparadas no poder, precisamos eleger essas mulheres, é uma responsabilidade de todas nós! Saudações feministas!


segunda-feira, julho 15, 2013

Sangue novo, sangue bom

Eu gosto do jeito como você fala e das coisas que escreve

Eu gosto de saber que as coisas que sabe foram aprendidas com a vida e não ensinadas na escola

Eu gosto de perceber que o que pode me ensinar são coisas que nenhuma outra pessoa fará por mim

Eu gosto de dar risada com você e de beber cerveja, mesmo quando é Brahma, enquanto você tem ideias e fala sem parar

Eu gosto do jeito como a gente, às vezes, parece deslocado de todo o resto do mundo, ser pária é para poucos, fortes e bravos

Eu odeio quando me chama de Paty e imagina toda uma vida que eu na realidade não tive

Mas eu me divirto e aprendo com você, porque a troca é sincera e verdadeira, aprender junto é uma das delícias de encontrar algumas pessoas pelo caminho! 

quinta-feira, março 07, 2013

Django tupiniquim

Quando soube que o Ministro Joaquim Barbosa assumiria o cargo de presidente do Supremo Tribunal Federal fiquei muito feliz. Afinal, só quem é negro,ou tem familiares negros sabe a dificuldade que é conquistar espaço num país racista. E se você é negro e pobre os percalços se tornam hercúleo.

Apesar da conquista de Barbosa ser um feito que deve ser comemorado por todos nós, me chamou a atenção a maneira como a mídia branca e de direita passou a enaltecer o ministro. Pra quem estudou um pouco semiótica e se dedicou a perder cinco minutos de reflexão, estava claro a intenção da mídia em construir um herói para combater quem? Os bandidos feios, sujos e malvados do mensalão. E ninguém melhor que Joaquim Barbosa para cumprir esse papel.

O “menino pobre que mudou o Brasil” na capa da reacionária Veja, tinha a trajetória clássica do herói de Campbell: pobre, filho de um pedreiro e uma mãe analfabeta, adorava ler, estudou, se empenhou, venceu por mérito próprio e agora? Era o herói que o Brasil precisava para combater a "quadrilha" petista.

O que essa mídia não contava é que Joaquim Barbosa é um destemperado. Durante o julgamento do mensalão, foram várias as ocasiões em que o ministro pesou a mão, às vezes, beirando a grosseria. Quem não se lembra do embaraçoso episódio em que ele disse ao colega Lewandowski, que deveria voltar à universidade e estudar mais. Totalmente desnecessário, mas ilustra bem a personalidade do ministro.

Pois bem, os principais acusados já foram julgados, então para que mais Joaquim Barbosa pode servir ao PIG (Partido da Mídia Golpista)? A mais nada! Nosso Django tupiniquim já cumpriu sua trajetória e pode voltar para a senzala.

Terça-feira, Barbosa deu o tiro de misericórdia na sua relação com os grandes conglomerados de nossa comunicação. O ministro mandou um repórter que trabalha para o Estadão "chafurdar no lixo". Dois dias depois, o jornal solta editorial intitulado “Os barracos do STF”,no qual enumera os “deslizes” de Barbosa e afirma que o estilo do relator deve preocupar, tendo em vista que a partir de 18 de março, ele assume o cargo de presidente do STF, no lugar de Carlos Ayres Britto. “E de forma alguma é descabido perguntar se ele sabe que terá de domar o seu temperamento para conduzir o tribunal com a paciência e o comedimento demonstrados por Ayres Britto - duramente testados, aliás, nos 'barracos' que teve de acalmar no curso deste julgamento”. Não apenas diz que ele deve se portar como o branco fino que o antecedeu, como sugere que seu gênio deve ser “domado”.

Além do editorial do Estadão, Merval Pereira, Dora Kramer e Marco Aurélio Mello já haviam indicado que o destempero de Joaquim Barbosa era prejudicial ao cargo que ocupará em breve. Indico aqui o ótimo artigo do Brasil 247, “Elite começa a descobrir o monstro criado no STF”.

Agora me diga, querem ou não querem enxotar o Barbosa da casa grande? Quando eu expressei essa opinião, hoje cedo, em post do Facebook, alguém veio me dizer que sou racista. Infelizmente ironia é para poucos. O fato é que eu não sou racista, a mídia brasileira é. Quando eu cheguei por aqui, essa merda toda já existia, a única coisa que fiz foi refletir sobre ela. E nesse mundo de homem branco, heterossexual e rico, os negros só têm vez quando os brancos donos do poder deixam.

Se depender de mim, Joaquim Barbosa passará. O meio jurídico é todo polido, vossa excelência pra lá, doutor sem título pra cá. As pessoas se chocam com Barbosa porque ele foge à regra. E o que esperar de um homem negro e pobre que chegou no posto que ele chegou? Não foi baixando a cabeça que ele conseguiu. Foi peitando todo o mundo. Adoro o jeito dele, menos quando é desrespeitoso. Mas quando é ácido, ele é um espetáculo!

     
Joaquim Barbosa em ângulo descontraído

sábado, março 02, 2013

O feminismo, uma pequena visão da morte e eu...

Como bem disse Woody Allen, final de ano é perigoso porque há muitas pessoas por ai andando sem supervisão. Por supervisão, subtenda-se terapia. Sim, sou adepta. Rumo ao sétimo ano do melhor da terapia freudiana e apesar de concorda com Allen, final de ano também é pra mim um momento de introspecção para rever escolhas, caminhos.

Em dezembro, pouco antes do Natal, rompi uma amizade. Rompimentos nunca são fáceis, mas aprendi a fazer isso. O que não me serve, eu simplesmente deixo ir embora, porque até que se prove o contrário, vou passar por essa vida somente uma vez, então, por favor, seja legal comigo, pode ser sua única oportunidade. Tento fazer o mesmo com os outros.

O fato é que esse rompimento me trouxe uma série de questionamentos e constatações. A primeira delas, como eu gostaria de ter deixado o Feminismo fazer parte da minha vida antes. É claro que ele já estava lá, como na tarde em que completei dez anos e minha mãe me arrancou de cima de um muro porque “MENINAS NÃO SOBEM EM MUROS”, ela bradou. Naquela mesma tarde, eu sangrei pela primeira vez. O mundo nunca mais foi o mesmo.

Apesar disso, eu só fui militar no movimento após muito tempo e depois de, sim, ter pulado muitos muros, bem maiores do que o proibido por minha mãe. E foi disso que falei em minha primeira sessão de 2013. De como o feminismo mudou determinados comportamentos, me fez mais seletiva e de como ele teria influenciado algumas escolhas do passado com as quais eu não consegui ser mais firme, mesmo quando precisava. Questões que envolviam meu corpo, meus sentimentos, a maneira como me relacionei com algumas pessoas. Mas isso já passou, eu não tenho como fazer diferente, mas posso me tornar uma mulher melhor.

E isso passa por não aceitar comentários sexitas, mesmo que venham de pessoas que gosto muito. Menos ainda comentários preconceituosos e que demonstram nítido desprezo e ódio pelas mulheres. Pessoas dessa categoria não merecem estar ao meu lado. Porque eu simplemente não me importo com a roupa que as pessoas vestem, ou com o fato de elas tentarem parecer o que não são. Se elas e eles estão felizes, vivendo a mais dura realidade, ou a mais insana fantasia, isso não é da minha conta.

E isso tudo não me diz respeito porque a vida é muito curta. Em dezembro, um conhecido foi passear na Ilha do Mel. Eles escorregou, caiu no mar e morreu. Era uma pessoa ótima, saudável, capoeirista, fazia um trabalho lindo com a molecada. E ele simplesmente morreu. Tão jovem. Mas acho que viveu do jeito que quis o tempo que ficou por aqui. Isso não é ótimo?

No dia 10 de fevereiro, eu fui internada. Tive apendicite, uma pequena hemorragia e, mais 24 horas, ele teria supurado. Entre o susto de ter que fazer uma cirurgia de emergência, ter que tomar anestesia geral, que eu morro de medo - não sabemos se acordaremos do lado de lá ou de cá - eu me vi perguntando se eu estava vivendo a vida como queria.Sim.

Minha vida não é perfeita. Eu não conheci metade dos lugares que eu desejo, eu não fiz um mestrado, não li todos os livros que tenho na prateleira, não tive um filho e ainda não estou muito certa se quero ser mãe, eu não amei de novo da maneira que gostaria. Porém,  em muitos sentidos, eu tenho levado a vida que eu acho digna. Uma vida coerente com o que penso, o que sinto e coloco em prática. E isso se intensificou muito depois do feminismo. Não foi sempre assim, mas as escolhas que fiz no passado também fazem parte da pessoa que sou hoje. Mesmo aquelas das quais me arrependo.

Não sei o que acontece depois que a gente morre e tenho pensado muito nisso. Não dá pra fugir, não é? A morte, às vezes, é angustiante porque simplesmente não temos a menor ideia do que acontece depois, se é que acontece algo. O que importa, então? Importa seguir coroando-se rainha ou rei de si, independente do que as pessoas pensam sobre você e o tanto quanto elas podem ser cruéis. São as minhas escolhas, é simplesmente entre eu e a maneira como quero levar a vida.