São tempos sombrios para nós
mulheres! Em pleno século 21, ainda nos debatemos e nos desgastamos com
questões que há muito já deveriam estar esclarecidas e bem resolvidas. O aborto
é um delas. Se o óbito é oficialmente decretado quando cessa a atividade
cerebral, é lógico que a vida só seja considerada iniciada a partir do momento em
que o cérebro é formado, após o terceiro mês de gestação.
Essa é a lógica utilizada em países desenvolvidos, onde a interrupção da gravidez é legal. A relação entre leis mais flexíveis e desenvolvimento social pode ser observada no Mapa da Legislação sobre o Aborto, que o Center for Reproductive Rights (Centro de Direitos Reprodutivos), ONG sediada em Nova York, montou ao pesquisar a legislação em 196 países e estados independentes. O mapeamento divide o planeta em cinco categorias vermelho, vinho, laranja, azul e verde. Pela ordem, vai das leis mais duras às mais flexíveis. O aborto, no Brasil, é tratado como no Haiti, no Paraguai e no Burundi. Vale lembrar, somente México, Cuba e mais recentemente o Uruguay – todo meu amor ao seu Pepe Mujica – possuem legislações abrangentes sobre o aborto na América Latina.
Sendo assim, figuramos
no bloco vermelho ao lado das 68 nações mais pobres, onde vivem 25,9% do povo
global. Em
suma, apesar dos avanços econômicos e sociais, dos últimos anos, estamos alinhados ao atraso quando o assunto é direito
sexual e reprodutivo, direitos das mulheres em decidir sobre o próprio corpo
para sermos mais exatas.
Em geral, as
nações que criminalizam o aborto são as que exibem o pior desempenho social, os
maiores índices de corrupção e violência e também os mais altos níveis de
desrespeito às liberdades individuais. Ficou
curiosa? Veja os dados aqui.
Para piorar a situação, o crescente poder da denominada “bancada evangélica” promete grandes estragos aos pífios direitos conquistados pelas brasileiras no que tange planejamento familiar e reprodutivo. Basta ver a proposta do famigerado Estatuto do Nascituro, que dá a um conjunto de células humanas direitos e obrigações absolutas ao Estado brasileiro, algumas delas superiores aos direitos das mulheres. Mais informações sobre o projeto de lei que deve cair, por ser inconstitucional, leia aqui.
Para piorar a situação, o crescente poder da denominada “bancada evangélica” promete grandes estragos aos pífios direitos conquistados pelas brasileiras no que tange planejamento familiar e reprodutivo. Basta ver a proposta do famigerado Estatuto do Nascituro, que dá a um conjunto de células humanas direitos e obrigações absolutas ao Estado brasileiro, algumas delas superiores aos direitos das mulheres. Mais informações sobre o projeto de lei que deve cair, por ser inconstitucional, leia aqui.
A última de Feliciano
E a dança com um passo para a frente e dois para trás não cessa. Essa semana, Senado e Câmara aprovaram o Projeto de Lei da Câmara dos Deputados (PLC) 03/13, que determina o atendimento imediato em hospitais das vítimas de violência sexual. Ótimo, nós esperamos mesmo que médicos e profissionais da saúde tenham mais sensibilidade que os cães do Estado para lidarem com a situação, mas eis que o demônio travestido de pastor, Marco Feliciano, pediu o veto de dois trechos. Um refere-se ao termo "profiilaxia" e o outro sobre o "fornecimento de informações às vítimas sobre os direitos legais e sobre todos os serviços sanitários disponíveis".
Para o deputado, o fornecimento de informações deve ser vetado, pois não cabe a hospitais oferecer orientação jurídica às vítimas. “Essa é uma responsabilidade das delegacias de polícia e autoridades competentes.” Que ele seria contra o termo profilaxia (que abre uma brecha para a realização de abortos) poderíamos imaginar, mas indicar o veto ao fornecimento de informações é nos mandar direto para a idade das trevas. Quer vomitar? Leia as pérolas do pastor do apocalipse aqui.
Por um mundo com mais mulheres no poder
Esse tipo de cenário é o que me fez adotar a postura de que mulher tem que votar em mulher. Claro, não é mulher tipo a Kátia Abreu, mas nós precisamos desesperadamente de mulheres no poder!
Mulheres dispostas a brigar para que nossos direitos sejam respeitados. Para que tenhamos acesso a planejamento familiar e para que possamos SIM interromper uma gravidez, quando julgarmos não haver condições econômicas, sociais ou psicológicas para sermos mães. Causas que estão muito além do que os motivos para os quais a interrupção ainda é permitida no Brasil.
Precisamos de mulheres no poder dispostas a sanar o problema da falta de creches em todo o país e que afeta dramaticamente a condição financeira das famílias, bem como coloca em risco nossas crianças, que ficam sozinhas ou sob os cuidados dos irmãos maiores para que os pais possam trabalhar.
Precisamos de mulheres dispostas a peitarem os poderes judiciário e executivo, no que tange o cumprimento da Lei Maria da Penha e que sofre resistência machista por parte dessas instâncias que NÃO cumprem a lei – o que aconteceu com dona Luana Piovani ocorre TODOS os dias dentro de DDMs, fóruns, varas familiares etc!
Precisamos de mulheres no poder dispostas a defender o SUS, a saúde pública, gratuita e de qualidade, para que nossos índices de mortalidade infantil diminuam e nosso saneamento básico nos encha de orgulho e não mate mais gente por diarreia!
É preciso eleger mulheres comprometidas com essas causas e dispostas a enfrentarem o patriarcado em prol da liberdade e qualidade de vida para todas as mulheres!
Maioria eleitoral, mas sem representatividade
Em
2010, tive a oportunidade de trabalhar como assessora de uma candidata ao cargo
de deputada federal. Durante a campanha, foi visível a dificuldade em superar o
fato de que, apesar de ser uma mulher extremamente preparada, doutora, líder feminista
na cidade, vereadora bem votada anteriormente e eleita a primeira presidente
mulher da câmara, muitos homens indicavam que sua maior dificuldade na campanha
seria superar o fato de ser mulher. Só faltou ela ter que se desculpar
por carregar uma vagina. Várias foram as
vezes em que a imaginei soltando: “desculpa, gente, é só minha vagina, não é a
esfinge olhando pra vocês e os desafiando com um belo decifra-me ou devoro-te”!
A verdade é que apesar de haver cotas para mulheres integrarem as esferas de poder, há uma imensa dificuldade dos partidos em cumpri-las. Mais que isso, sempre que o tema é debatido, é comum vermos homens justificando tal dificuldade como falta de preparo e de interesse das mulheres pela vida política. Nós sabemos que isso não é verdade.
A carga de trabalho, dentro e fora do espaço doméstico, e a falta de participação dos homens na última instância são alguns dos percalços que dificultam a entrada das mulheres na política. Soma-se a isso o fato de que dentro dos partidos, em eventos de formação, por exemplo, as mulheres ainda são deixadas fora do protagonismo dessas atividades. A elas cabem tarefas como organização, limpeza e providências quanto à alimentação. Essa é uma realidade encontrada inclusive dentro de partidos de esquerda que deveriam adotar uma postura mais revolucionária e de quebra de paradigmas. Aqui um desabafo: partidos de esquerda não sabem lidar com questões de gênero e raça. Colocam a luta de classes acima de tudo e não resolvem nem uma coisa, nem outra. Quem já leu “O poder do macho”, da gloriosa Heleieth Saffiotti sabe do que estou falando.
Participação das mulheres na política nacional
Desde que as cotas foram estabelecidas, em 1995, os partidos e coligações foram obrigados a reservar para as mulheres 20% das candidaturas disponíveis, mas os resultados foram insatisfatórios. Em 1997, a reserva para as candidaturas femininas subiu de 20% para 30%, mas como a lei obrigava os partidos a “reservar” as vagas, eles entenderam que não estavam obrigados a efetivamente preenchê-las. PICARETAS!
Na verdade, o estabelecimento de cotas para mulheres nas eleições brasileiras foi reflexo de um movimento mundial. Ainda em 1995, a Organização das Nações Unidas (ONU) realizou a 4ª Conferência Mundial sobre a Mulher. No documento final, os países se comprometeram a executar políticas que favorecessem a igualdade entre homens e mulheres. As cotas nas eleições ganharam o mundo. Houve avanços dignos de aplausos, como no México, onde a participação das mulheres no Parlamento saltou de 14,2% para 36,8% em apenas 15 anos. Na França, de 6,4% para 26,9%.
Porém, o Brasil continua sendo uma vergonha. Nas eleições do ano passado, 13,3% dos vereadores eleitos foram do sexo feminino. Em Florianópolis e Palmas, nenhuma mulher se elegeu, apesar de as mulheres serem 51% da população brasileira e 52% do eleitorado.
Segundo dados da União Interparlamentar (IPU), de 190 países, o Brasil ocupa a 158ª posição (8,6% de mulheres) em ranking baseado na composição parlamentar. Na política, as mulheres do Iraque (25,2%), do Afeganistão (27,7%) e de Moçambique (39,2%) estão em melhor situação do que as brasileiras.
Como curiosidade, vale mencionar que a Câmara dos Deputados é formada por 513 políticos dos quais somente 46 são mulheres. No senado, de 81 políticos, apenas dez são mulheres, sendo que Marta Suplicy e Gleisi Hoffmann estão licenciadas. Chega a ser constrangedor, mas explica muita coisa! Como é que tão poucas mulheres podem dar conta de demandas tão importantes como o direito ao aborto, ou a queda do Estatuto do Nascituro? São questões muito particulares do universo feminino e pelas quais sempre sofremos, fomos responsabilizadas, criminalizadas. Homens não podem deliberar sobre esses assuntos. Homens têm que levar adiante o que nós definirmos para essas pautas!
Desde 2010, adotei como conduta política votar apenas em mulheres. Mulheres que eu acredito que tomarão essas lutas para elas. Mulheres que podem colocar a bancada evangélica em seu lugar, de onde nunca deveria ter saído: de dentro das igrejas e somente lá dentro, afundando na lama de seus próprios pecados. Em 2014 teremos novas eleições, parece distante, mas está ai. Comecemos a preparar nossas lideranças mulheres para o pleito, comecemos agora a disseminar essa ideia. Precisamos de mulheres preparadas no poder, precisamos eleger essas mulheres, é uma responsabilidade de todas nós! Saudações feministas!
E a dança com um passo para a frente e dois para trás não cessa. Essa semana, Senado e Câmara aprovaram o Projeto de Lei da Câmara dos Deputados (PLC) 03/13, que determina o atendimento imediato em hospitais das vítimas de violência sexual. Ótimo, nós esperamos mesmo que médicos e profissionais da saúde tenham mais sensibilidade que os cães do Estado para lidarem com a situação, mas eis que o demônio travestido de pastor, Marco Feliciano, pediu o veto de dois trechos. Um refere-se ao termo "profiilaxia" e o outro sobre o "fornecimento de informações às vítimas sobre os direitos legais e sobre todos os serviços sanitários disponíveis".
Para o deputado, o fornecimento de informações deve ser vetado, pois não cabe a hospitais oferecer orientação jurídica às vítimas. “Essa é uma responsabilidade das delegacias de polícia e autoridades competentes.” Que ele seria contra o termo profilaxia (que abre uma brecha para a realização de abortos) poderíamos imaginar, mas indicar o veto ao fornecimento de informações é nos mandar direto para a idade das trevas. Quer vomitar? Leia as pérolas do pastor do apocalipse aqui.
Por um mundo com mais mulheres no poder
Esse tipo de cenário é o que me fez adotar a postura de que mulher tem que votar em mulher. Claro, não é mulher tipo a Kátia Abreu, mas nós precisamos desesperadamente de mulheres no poder!
Mulheres dispostas a brigar para que nossos direitos sejam respeitados. Para que tenhamos acesso a planejamento familiar e para que possamos SIM interromper uma gravidez, quando julgarmos não haver condições econômicas, sociais ou psicológicas para sermos mães. Causas que estão muito além do que os motivos para os quais a interrupção ainda é permitida no Brasil.
Precisamos de mulheres no poder dispostas a sanar o problema da falta de creches em todo o país e que afeta dramaticamente a condição financeira das famílias, bem como coloca em risco nossas crianças, que ficam sozinhas ou sob os cuidados dos irmãos maiores para que os pais possam trabalhar.
Precisamos de mulheres dispostas a peitarem os poderes judiciário e executivo, no que tange o cumprimento da Lei Maria da Penha e que sofre resistência machista por parte dessas instâncias que NÃO cumprem a lei – o que aconteceu com dona Luana Piovani ocorre TODOS os dias dentro de DDMs, fóruns, varas familiares etc!
Precisamos de mulheres no poder dispostas a defender o SUS, a saúde pública, gratuita e de qualidade, para que nossos índices de mortalidade infantil diminuam e nosso saneamento básico nos encha de orgulho e não mate mais gente por diarreia!
É preciso eleger mulheres comprometidas com essas causas e dispostas a enfrentarem o patriarcado em prol da liberdade e qualidade de vida para todas as mulheres!
Maioria eleitoral, mas sem representatividade
A verdade é que apesar de haver cotas para mulheres integrarem as esferas de poder, há uma imensa dificuldade dos partidos em cumpri-las. Mais que isso, sempre que o tema é debatido, é comum vermos homens justificando tal dificuldade como falta de preparo e de interesse das mulheres pela vida política. Nós sabemos que isso não é verdade.
A carga de trabalho, dentro e fora do espaço doméstico, e a falta de participação dos homens na última instância são alguns dos percalços que dificultam a entrada das mulheres na política. Soma-se a isso o fato de que dentro dos partidos, em eventos de formação, por exemplo, as mulheres ainda são deixadas fora do protagonismo dessas atividades. A elas cabem tarefas como organização, limpeza e providências quanto à alimentação. Essa é uma realidade encontrada inclusive dentro de partidos de esquerda que deveriam adotar uma postura mais revolucionária e de quebra de paradigmas. Aqui um desabafo: partidos de esquerda não sabem lidar com questões de gênero e raça. Colocam a luta de classes acima de tudo e não resolvem nem uma coisa, nem outra. Quem já leu “O poder do macho”, da gloriosa Heleieth Saffiotti sabe do que estou falando.
Participação das mulheres na política nacional
Desde que as cotas foram estabelecidas, em 1995, os partidos e coligações foram obrigados a reservar para as mulheres 20% das candidaturas disponíveis, mas os resultados foram insatisfatórios. Em 1997, a reserva para as candidaturas femininas subiu de 20% para 30%, mas como a lei obrigava os partidos a “reservar” as vagas, eles entenderam que não estavam obrigados a efetivamente preenchê-las. PICARETAS!
Na verdade, o estabelecimento de cotas para mulheres nas eleições brasileiras foi reflexo de um movimento mundial. Ainda em 1995, a Organização das Nações Unidas (ONU) realizou a 4ª Conferência Mundial sobre a Mulher. No documento final, os países se comprometeram a executar políticas que favorecessem a igualdade entre homens e mulheres. As cotas nas eleições ganharam o mundo. Houve avanços dignos de aplausos, como no México, onde a participação das mulheres no Parlamento saltou de 14,2% para 36,8% em apenas 15 anos. Na França, de 6,4% para 26,9%.
Porém, o Brasil continua sendo uma vergonha. Nas eleições do ano passado, 13,3% dos vereadores eleitos foram do sexo feminino. Em Florianópolis e Palmas, nenhuma mulher se elegeu, apesar de as mulheres serem 51% da população brasileira e 52% do eleitorado.
Segundo dados da União Interparlamentar (IPU), de 190 países, o Brasil ocupa a 158ª posição (8,6% de mulheres) em ranking baseado na composição parlamentar. Na política, as mulheres do Iraque (25,2%), do Afeganistão (27,7%) e de Moçambique (39,2%) estão em melhor situação do que as brasileiras.
Como curiosidade, vale mencionar que a Câmara dos Deputados é formada por 513 políticos dos quais somente 46 são mulheres. No senado, de 81 políticos, apenas dez são mulheres, sendo que Marta Suplicy e Gleisi Hoffmann estão licenciadas. Chega a ser constrangedor, mas explica muita coisa! Como é que tão poucas mulheres podem dar conta de demandas tão importantes como o direito ao aborto, ou a queda do Estatuto do Nascituro? São questões muito particulares do universo feminino e pelas quais sempre sofremos, fomos responsabilizadas, criminalizadas. Homens não podem deliberar sobre esses assuntos. Homens têm que levar adiante o que nós definirmos para essas pautas!
Desde 2010, adotei como conduta política votar apenas em mulheres. Mulheres que eu acredito que tomarão essas lutas para elas. Mulheres que podem colocar a bancada evangélica em seu lugar, de onde nunca deveria ter saído: de dentro das igrejas e somente lá dentro, afundando na lama de seus próprios pecados. Em 2014 teremos novas eleições, parece distante, mas está ai. Comecemos a preparar nossas lideranças mulheres para o pleito, comecemos agora a disseminar essa ideia. Precisamos de mulheres preparadas no poder, precisamos eleger essas mulheres, é uma responsabilidade de todas nós! Saudações feministas!
Um comentário:
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Muito bom o texto. E bem lembrado o perfil de mulheres que não queremos (Kátia Abreu é um belo exemplo!). Espero que 2014 seja melhor pra quem for votar - que existam mais opções.
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