O salão estava cheio. A decoração era delicada e encantadora. O branco do vestido contrastava com meu véu colorido e os detalhes vermelhos da maquiagem em meu rosto pálido.
Eu tinha apenas 16 anos quando fui levada a Macau para me casar com um grande comerciante que pagou um ótimo dote ao meu pai para me ter como esposa. O nome de meu futuro esposo era João, um português gentil, porém velho e mal cheiroso a quem eu repudiava com todas as minhas forças.
A verdade é que sua pessoa não era de toda ruim, mas a proposta de casamento afastou-me de Olivier, o francês contratado por minha mãe, para me dar aula de etiqueta, literatura e piano. Afinal, eu era um biscoito fino.
O que ninguém sabia era que Olivier me ensinou muito mais que apreciar escritores como Bocage, Conde Byron e o tão temido como pouco compreendido Marquês de Sade. Com Olivier, também havia aprendido a me doar por inteira, a dar risada, a desejar e ser desejada, aprendi a ser mulher, a querer ser livre e aprender tudo o que eu pudesse sobre a vida. Foi a ele que entreguei meus sentimentos mais íntimos, pouco antes de partir a Macau.
Apesar de toda a intensidade de sentimentos e do que eu havia vivido com Olivier, fui incapaz de dizer não ao meu pai, e aceitei o casamento. E enquanto eu estava ali, parada diante da porta da igreja, submersa em todos estes pensamentos, em como tudo poderia ter sido diferente, mas não seria por minha covardia, mal notei a correria ao meu redor e o olhar de espanto com que todos me olhavam.
Só me dei conta de que algo estava errado quando vi meu pai se aproximando de mim e dizendo "eu sinto muito". Perguntei o que havia de errado e ele me respondeu que o noivo havia fugido com o amante que há anos tinha um caso. Olhei nos olhos de meu velho pai, ergui minha cabeça com toda dignidade que consegui e agradeci a Deus pelo noivo ser mais corajoso que eu.
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