sábado, março 02, 2013

O feminismo, uma pequena visão da morte e eu...

Como bem disse Woody Allen, final de ano é perigoso porque há muitas pessoas por ai andando sem supervisão. Por supervisão, subtenda-se terapia. Sim, sou adepta. Rumo ao sétimo ano do melhor da terapia freudiana e apesar de concorda com Allen, final de ano também é pra mim um momento de introspecção para rever escolhas, caminhos.

Em dezembro, pouco antes do Natal, rompi uma amizade. Rompimentos nunca são fáceis, mas aprendi a fazer isso. O que não me serve, eu simplesmente deixo ir embora, porque até que se prove o contrário, vou passar por essa vida somente uma vez, então, por favor, seja legal comigo, pode ser sua única oportunidade. Tento fazer o mesmo com os outros.

O fato é que esse rompimento me trouxe uma série de questionamentos e constatações. A primeira delas, como eu gostaria de ter deixado o Feminismo fazer parte da minha vida antes. É claro que ele já estava lá, como na tarde em que completei dez anos e minha mãe me arrancou de cima de um muro porque “MENINAS NÃO SOBEM EM MUROS”, ela bradou. Naquela mesma tarde, eu sangrei pela primeira vez. O mundo nunca mais foi o mesmo.

Apesar disso, eu só fui militar no movimento após muito tempo e depois de, sim, ter pulado muitos muros, bem maiores do que o proibido por minha mãe. E foi disso que falei em minha primeira sessão de 2013. De como o feminismo mudou determinados comportamentos, me fez mais seletiva e de como ele teria influenciado algumas escolhas do passado com as quais eu não consegui ser mais firme, mesmo quando precisava. Questões que envolviam meu corpo, meus sentimentos, a maneira como me relacionei com algumas pessoas. Mas isso já passou, eu não tenho como fazer diferente, mas posso me tornar uma mulher melhor.

E isso passa por não aceitar comentários sexitas, mesmo que venham de pessoas que gosto muito. Menos ainda comentários preconceituosos e que demonstram nítido desprezo e ódio pelas mulheres. Pessoas dessa categoria não merecem estar ao meu lado. Porque eu simplemente não me importo com a roupa que as pessoas vestem, ou com o fato de elas tentarem parecer o que não são. Se elas e eles estão felizes, vivendo a mais dura realidade, ou a mais insana fantasia, isso não é da minha conta.

E isso tudo não me diz respeito porque a vida é muito curta. Em dezembro, um conhecido foi passear na Ilha do Mel. Eles escorregou, caiu no mar e morreu. Era uma pessoa ótima, saudável, capoeirista, fazia um trabalho lindo com a molecada. E ele simplesmente morreu. Tão jovem. Mas acho que viveu do jeito que quis o tempo que ficou por aqui. Isso não é ótimo?

No dia 10 de fevereiro, eu fui internada. Tive apendicite, uma pequena hemorragia e, mais 24 horas, ele teria supurado. Entre o susto de ter que fazer uma cirurgia de emergência, ter que tomar anestesia geral, que eu morro de medo - não sabemos se acordaremos do lado de lá ou de cá - eu me vi perguntando se eu estava vivendo a vida como queria.Sim.

Minha vida não é perfeita. Eu não conheci metade dos lugares que eu desejo, eu não fiz um mestrado, não li todos os livros que tenho na prateleira, não tive um filho e ainda não estou muito certa se quero ser mãe, eu não amei de novo da maneira que gostaria. Porém,  em muitos sentidos, eu tenho levado a vida que eu acho digna. Uma vida coerente com o que penso, o que sinto e coloco em prática. E isso se intensificou muito depois do feminismo. Não foi sempre assim, mas as escolhas que fiz no passado também fazem parte da pessoa que sou hoje. Mesmo aquelas das quais me arrependo.

Não sei o que acontece depois que a gente morre e tenho pensado muito nisso. Não dá pra fugir, não é? A morte, às vezes, é angustiante porque simplesmente não temos a menor ideia do que acontece depois, se é que acontece algo. O que importa, então? Importa seguir coroando-se rainha ou rei de si, independente do que as pessoas pensam sobre você e o tanto quanto elas podem ser cruéis. São as minhas escolhas, é simplesmente entre eu e a maneira como quero levar a vida.


Um comentário:

Marina disse...

Gostei bastante, Lu ! Tbm sou adepta e por enquanto não consigo imaginar minha vida sem ter minha analista me esperando lá sentadinha toda 2a feira rs Minha "adesão" ao feminismo é mais recente, e vira e mexe me vejo pensando em quanta mudança isso me trouxe, pra uma vida mais libertária, menos crítica em relação às minhas semelhantes e mais solidária. Beijo!