terça-feira, março 21, 2006

De como nascem os príncipes encantados...


Desde aquele último encontro, o encontro do adeus, a visão que tinha sobre o amor andava distorcida. Passou a duvidar de que aquela dor medonha que se sente ao gostar e não ser correspondido, aquela ansiedade que consome a alma porque ele não ligou, não escreveu um e-mail, não mandou um torpedo, enfim, te ignorou sumariamente, a dor que todos os rejeitados bem conhecem, realmente fosse mesmo a única que valesse a pena ser sentida nesta vida.

Sentir-se vazia, murcha, completamente sem graça e sem a menor vontade de abrir o coração para novas possibilidades. Esta autoproteção nem de longe faz parte de sua natureza. Ela é quem arrisca, quem não tem medo de chorar e gargalhar até a exaustão, aquela que se entrega ao que sente, que é apaixonada pela vida e principalmente sabe vivê-la e muito bem!

Então, durante um almoço barato, ela não está certa se foi efeito do peixe ou da batata temperada, só sabe dizer que teve uma visão que provavelmente mudará tudo o que sempre pensou sobre a busca do homem ideal. “É deste jeito que devem nascer os verdadeiros príncipes”, pensa. A mulher que o procura, em algum momento, deve ter se decepcionado muito, mas muito mesmo. Ela deve ter escutado coisas maravilhosas de um homem que, em alguns dias, parecia não ser o mesmo das palavras escolhidas a dedo para lhe fazer sentir a pessoa mais importante do mundo. Ela também deve ter pensado em só ter relacionamentos superficiais, meros passa-tempos, em namorar homens burros, ou, se fossem calhordas, que fossem pelo menos calhordas ricos.

Porém, isso não é o ideal de ser mulher. Ela foi criada para amar, obedecer aos maiores caprichos de Eros, lutar intensamente contra Tânatos, transformar meninos em homens e mostrar a eles o por quê de nossa existência.

Então, como uma última chance à humanidade, ela resolve acreditar que, em algum lugar, o príncipe encantado a aguarda! Ele não precisa usar armadura, nem estar montado num cavalo branco. Basta ser sincero, não criar poesia para tirá-la de sua órbita e depois jogá-la no fundo de um poço qualquer. Não precisa ser fiel – nisso ela definitivamente não acredita – mas precisa saber a hora de pular fora para não magoá-la. Precisa respeitar seu silêncio, ouvir suas neuroses, ter bom humor, gostar de crianças, fazer planos mirabolantes para o futuro – mesmo que tenha a certeza que eles nunca serão realizados - e, claro, ter mãos e língua habilidosas!

Somente a crença num homem como este poderia fazê-la tentar de novo, e mais uma vez, e mais outra até encontrá-lo, num belo jardim com gérberas vermelhas, lendo Proust e aprendendo a buscar o tempo perdido.

E é assim que, há milhares de anos, a preservação da espécie tem se mantido, graças à crença inabalável de que o príncipe encantando existe, é só você procurar com cuidado!

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