quarta-feira, julho 11, 2007

Eu voltei ...

Cá estou, de volta a cidade grande. Cidade, paradinha sinistra, segundo Chacal! Tudo ainda passa pelos meus olhos em câmera lenta. Minha cama me deu torcicolo ontem e acordei com dor na lombar hoje. A da pousada era minúscula e eu não conseguia me mexer, acho que dormia e acordava do mesmo jeito.

Saímos de Parati na terça bem cedo. Na segunda, a cidade já não era mais a mesma! Não tinha nem metade do movimento dos dias anteriores. Estava sombria, melancólica, morta! Foi triste ver toda aquela estrutura sendo desmontada, desaparecendo, pedaço por pedaço, até não restar nada!

Os restaurantes voltaram a servir com a mesma lentidão anterior, mas agora com poucas pessoas quase não se notava, não incomodava.

No final, apesar da falta de educação dos ricos deu para aproveitar muita coisa, conhecer gente, escritores que vou querer ler um por um, ver Paulo José mediar uma mesa e participar de uma leitura com o Mário Bortolloto de deixar qualquer um completamente embasbacado e teve ele, claro, seu Guillermo Arriaga que disse uma das coisas mais apaixonantes da festa.

Sobre o ato de escrever, ele disse que começou quando soube que tinha uma infecção no coração e que provavelmente morreria naquela noite. Deitado, no hospital, olhou sua mão e pensou que na manhã seguinte, ela poderia ser um cadáver, como será um dia a mão de qualquer pessoa. Então prometeu a ele mesmo que, enquanto estivesse vivo aquela mão "acariciaria todas as peles que pudesse acariciar, quebraria todas as caras que pudesse quebrar e faria alguma coisa que me desse a oportunidade da trascendência"! Escrever é o que lhe permite transcender!

É isso. De volta a vida real, onde nem tudo pode ser dito ou feito com tamanha maestria. Outro dia me perguntaram o que eu queria ser quando crescesse? Eu não soube responder. Hoje, eu tenho certeza que quero ser feliz e acariciar todas as peles que eu tiver vontade, quero ser verdadeira comigo mesma, quero usar as palavras da melhor forma possível sem ser leviana, apenas coerente com o que penso, falo e sinto.

Eu queria entender tantas coisas, entender cada palavra que me dizem e o que elas de fato estão sendo ditas, queria não me deixar enganar, não me deixar seduzir. A cada tropeço, e tem sido um ano de muitos tropeços, com certeza eu me aprimoro mais um pouco, mas a impressão que tenho é que nunca sei o bastante e isso é uma merda!

2 comentários:

Anônimo disse...

Oi.
Passamos aqui para saber notícias do lado B da Flip, o que não mostram na TV e que, por isso mesmo, parece mais humano.
Assisti à entrevista do Arriaga no Roda Viva e ele realmente falou coisas interessantes - só achei contraditório ter falado que pratica caça porque ama os animais. Talvez pense como o Hemingway. Acho que só entenderei o que quis dizer quando matar meu 1º animal - certamente começarei por um gato aqui de casa que já matei em ficção.
Na saída da FLAP, eu, CL.. e TJ McQueen falavámos sobre a transcendência da literatura, o excesso de vida que acabamos não tendo ou que, de alguma forma, não nos permitem ter.
É isso aí.
Bjo

Meja disse...

Seu Marcelo,
O lado B da flip só tem gente boa, quando falamos dos escritores que costumam ser gentis. O pessoal da grana, em geral, é uma merda e é quem estraga a festa. Do resto, se puder ir no próximo ano, vale muito a pena!
Bjo