sexta-feira, junho 22, 2007

A vida é um cabaret

Coisas que não vou fazer porque arrumei um freela que vai me tomar muito tempo, mas que eu gostaria muito, muito de me dar de presente. Tem coisa mais despretenciosa que conseguir ir a um museu em plena segunda-feira à tarde ver Toulouse-Lautrec no Masp? Não, não tem. É a mais pura representação de que você pode ter uma vida hedonista, se você quiser! Sim, o pintor dos cabarés está lá, com toda sua oposição entre a vida da boemia e a tranquilidade de Paris. E eu aqui, postando e pensando em como eu teria gostado de viver naquela época. Ser uma puta, fumar, beber e morrer bem jovem, ou velha mesmo, mas como ótimas histórias para contar! Deus, transforme minha vida num cabaret, mas não me deixe morrer com a sensação de que eu não vivi o suficiente!

3 comentários:

Jota disse...

Ah, mas agora vc falou uma verdade. Cabaret a vida é, no sentido de ser a putaria sendo vivida intensamente ou no de ser uma zona, uma bagunça. O que acaba quase dando no mesmo.

A gente se fode e é pago pra isso.

Eu mesmo, sou a puta-mor do cabaret da minha vida. Mas um dia eu hei de gozar. E quando eu gozar, por ter encontrado algo que me dê sentido, paro de cobrar.

E largo essa vida de puta.

P.S.: Adoooro, Toulouse-Lautrec. Como eu queria que essa exposição viesse pra cá...

Jota disse...

Esse assunto me lembrou de um poema de Marçal Aquino, não sei se vc conhece:


"Ontem
morreu a puta mais velha
da vila.
Tinha cabelos brancos,
um dente de ouro
e uma foto adolescente.
Nunca reclamou do tempo,
do governo
e do preço das coisas.
Mas, desconfio, tinha desertos dentro de si.

Foi vista um dia
Olhando uma nuvem.

Gostava de um vestido vermelho
que nem lhe servia mais.

Quando ela morreu
dois negrinhos barrigudos
olhavam o incêndio
num monte de lixo.

Dizem que foi a paixão
de um importante político
nos anos 40.
Teve jóias,
roupa nova,
convite pra festas
e pneumonia.
Sobraram-lhe as rugas:
michê de fim de expediente.
Votou em Getúlio
e sempre respeitou a sexta-feira santa

Paixão ela teve duas
Um manco de bigodinho
e um outro que voltou pro Norte.
O esmalte no dedão descascava
Como descascam certos dias
e a gente não vê.

Morreu só
a puta mais velha da vila. E uma doença
que quase a matou. Um cara perguntou
se ela era feliz. Outro, por que não casou.
E ela sabia
que um Domingo
rodeada de netos no subúrbio
é também uma prisão.

Preferiu a cerveja morna
e o São Jorge sobre a cômoda.

Morreu velha essa puta na vila.
Sem saber a idade ao certo
mas dos setenta chegou perto.

Morreu numa tarde anônima
com criança olhando incêndio
e cachorro magro
passeando na vila. Tarde comum
com tédio de vestido vermelho
e de varal de vila.
o mesmo tédio
de que é feita a fúria da primavera
e a esperança das putas."

Meja disse...

Marçal Aquino é uma inspiração. Sim, colega, também gosto muito dele. Obrigada pelo poema, este eu não conhecia!