quinta-feira, março 01, 2007

E Deus criou Contardo Calligaris...


Ando meio chata e por isso não tenho escrito muito. Revoltada com a vida como se isso fosse uma grande coisa! Não conheço quem não esteja. Enfim, às vezes, é necessário algo externo para nos fazer dar valor a certas atitudes que temos, afinal, quando falamos de nós mesmos, a tendência é sempre achar que estamos aquém do que gostaríamos.

Talvez sim, mas também é bom acreditar que, de vez em quando, conseguimos ser autênticos, verdadeiros e coerentes com nós mesmos. Respeitar nossa natureza, a natureza do outro. O fato de que, azar o seu, doçura, mas nem sempre as pessoas vão agir do jeito como gostaríamos, como julgamos certo, como fazemos, como manda a nossa essência.

E foi assim que dei graças aos céus por Deus ter criado Contardo Calligaris, por ter lhe dado sabedoria, por ter lhe dado um emprego na Folha de São Paulo e por permitir que eu delicie-me com ele a cada quinta-feira, a cada descoberta, a cada susto, a cada tropeço...

Faz tempo que não bebo, mas hoje, comemorando o Carnaval atrasado e tudo o que a festa representava nos tempos de Dionísio, abrirei minha melhor garrafa de vinho e brindarei à elegância do espírito, à intensidade e à variedade de experiências, ao amor e a uma outra vida possível!

Pecados Íntimos por Contardo Calligaris
"Quando ensinava "Cultural Studies" na New School, começava dizendo a meus estudantes que eles eram livres para tirar todas as notas A que quisessem, mas, para entender a subjetividade moderna, eles teriam que passar por três letras B: Brummel, Byron e Bovary. Não era só uma piada de professor: as três figuras em questão, afinal, falam todas de nossa impossibilidade de conseguir, na vida, a nota máxima.

Um B já é de bom tamanho. Brummel (o primeiro dandy, no fim do século 18) lembra que a nobreza não é efeito do berço em que a gente nasce; ela é fruto da "elegância" (não tanto das maneiras e da roupa, mas do espírito). O hábito, na modernidade, faz o monge, e somos livres para escolhê-lo. Mas essa liberdade tem um custo: o desconforto de apenas parecer o que somos e, claro, a aflição de parecer o que não somos ou não queremos ser. O hábito faz e aprisiona o monge.

Byron (o poeta romântico) lembra que, na vida moderna, o que importa é a intensidade e a variedade de experiências. A fome de viver e o anseio de aventuras levam alguns a lutar pela independência da Grécia, a pular de skate quando mal sabem andar ou a perder-se nas sarjetas do mundo. E nos levam a sonhar com o que não ousamos empreender.

Emma Bovary (a heroína do romance de Flaubert) lembra que o amor é o grande operador moderno da mudança. Descobrimos que podíamos inventar nossa vida quando começamos a casar por amor (e não para preservar a casta, a família e o patrimônio). Portanto, esperamos do amor que ele nos transforme e nos leve para uma "outra" vida (e toda vida tem uma "outra" vida com a qual sonhar)."

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