terça-feira, setembro 24, 2013

Deus não perdoa e eu também não!

Pra quem não sabe, sou umbandista. Fui criada dentro do kardecismo, acredito em reencarnação, no livre arbítrio, na lei do retorno. Durante um período treva da minha vida, estive muito próxima ao budismo, religião à qual devo grandes aprendizados. Entreguei-me à umbanda, aceitei a missão de me tornar médium dentro de um terreiro, porque os tambores tocam alto dentro de mim. Tão alto que não resisto ao seu chamado. A primeira gira que tomei foi na casa do meu sempre pai de santo José Francisco, e foi o caboclo da minha eterna mãe de santo, Andréa quem me presenteou. Decidi ali, que não queria mais passar a vida sem aquela sensação. Mas mudei de cidade, percorri outras casas e, há um ano, trabalho na Terreiro de Umbanda Caboclo Pena Branca.

Lá, temos estudos, lemos o Evangelho Segundo o Espiritismo e o Zé Ambrósio, responsável por conduzir a leitura e reflexão, no início de setembro, é quem me inspira a escrever esse texto. “Deus não perdoa”! Ele disse isso de forma categórica. E tudo pra mim fez sentido.

Todos nós conhecemos a lei do retorno, se não a espiritual, pelo menos já ouvimos falar da Terceira Lei de Newton que diz que para toda ação, há uma reação de mesma força, mas em sentidos opostos. Se Deus perdoa, por que nossas ações retornam? Por que quando fazemos o bem, recebemos o bem e quando fazemos o mal, recebemos o mal?

Se Deus de fato perdoasse, por que precisaríamos de uma lei de retorno de nossas ações? Ele simplesmente perdoaria e pronto, seguiríamos com nossas vidas. Mas é o contrário, uma hora, somos cobrados, porém, diferente da Lei de Newton, nós não sabemos quando! Quer outra prova de que Deus não é clemente aos nossos erros? “Pedro, embainha tua espada, quem com ferro fere, com ferro será ferido”.

A lei da causa e dos efeitos está ai para nos lembrar que, se amarmos ao próximo, como a nós mesmos, só colheremos bons frutos. Se não julgarmos, se não matarmos, se tratarmos a todos com respeito, não há o que temer. Estamos aqui pra isso: aprender. Mas se fizéssemos tudo ao contrário e Deus nos perdoasse, de que forma aprenderíamos? Simples, não aprenderíamos e erraríamos constantemente.

Depois desse dia, fui tomada de um alívio absurdo! Sei que magoei algumas pessoas, mas isso nunca foi intencional e em alguns casos, creio que já fui punida. Porém, deliberadamente jamais desejei o mal a quem quer que fosse, mesmo aos que me feriram. Confesso que perdoar sempre foi difícil pra mim, na minha cabeça eu apenas deveria apagar o episódio e as pessoas envolvidas. Era meu jeito de perdoar, apenas esquecer o assunto, ou tentar fazer isso. Hoje, me sinto à vontade para não perdoar mais ninguém!

Eu apenas acredito, com toda a minha força, com toda a minha fé, que Deus, que o universo providenciará o aprendizado e que o que fizeram pra mim, retornará. Não pelas minhas mãos, mas pela força de algo que está acima de todos nós. É claro, ainda não sou iluminada o suficiente, então eu peço sim que quando a pessoa estiver pagando por algo que fez a mim, que ela se lembre do ocorrido. Tudo bem, não deveria fazer isso, mas é um mundo de provas e expiações, não sou perfeita, ainda.

Depois da aula, duas coisas muito, muito boas ocorreram comigo. Fui convidada para ser uma das oradoras da turma de Promotoras Legais Populares e indicada a uma premiação jornalística. Já disse aqui sobre o bullying sofrido na infância e adolescência. No último dia de aula de Ensino Fundamental, por exemplo, tudo o que desejei era ser a “Carrie, a estranha” e atear fogo na escola com aqueles infelizes todos dentro. Não deu certo, eu não tinha os poderes da Carrie. Eu não sei como estão hoje cada uma daquelas almas que fizeram da minha infância e adolescência um inferno, mas eu, eu estou exatamente onde queria estar. Eu sou reconhecida pelas pessoas com as quais eu me importo e nunca na minha vida eu imaginei que um dia seria convidada a ser oradora de qualquer coisa. E fui, alguém acha que eu as represento bem e isso é uma honra para a garota gorda, CDF, de óculos que ainda existe aqui e que só se fortaleceu!

Sobre a premiação jornalística, saberei se sou a ganhadora ou não nessa noite, e essa tem um gosto muito especial. Porque eu saí do lugar para onde escrevi a matéria por supostamente não ter conseguido fazer da publicação uma revista técnica, mas eu tentei. Porém, no meio do caminho havia uma pedra. Eu terminei essa matéria dentro de um quarto de hospital, operada do apêndice. É uma premiação destinada a publicações técnicas. Eu não quero nem saber como está a pedra do meio do caminho, a minha recompensa veio em forma de justiça. E se vieram meus louros por boas ações, tenho certeza que cada um vai ter aquilo que merece. De minha parte, só posso dizer que estou feliz da vida, satisfeita e contente por ser a pessoa que eu sou. Mais que isso, me sinto merecedora e recompensada por ter agido sempre baseada nos meus princípios. Obrigada, Deus. Obrigada, universo!

E toma aqui pra vocês, que eu não sou obrigada!

quarta-feira, agosto 21, 2013

Minha história com o Raul

Hoje, faz 24 anos que o Raulzito foi arregaçar em alguma outra dimensão. Era um domingo, eu brincava com umas vizinhas e a prima delas, um pouco mais velha lamentou a morte dele. Na ápoca, eu o conhecia mais pela figura que me chamava atenção do que pelas músicas. Achava divertidas, mas entendia quase nada. Ai, lá pros 13 anos, sofrendo toda espécie de bullying que uma criança gorda, de óculos e CDF podia sofrer, eu redescobri o Raul nessa música. De certa forma, sobrevivi aquela merda toda com a ajuda dele! E acho que foi uma boa companhia!

sexta-feira, agosto 09, 2013

O meu homem

Eu dou casa, comida e roupa lavada para o homem, com a cara do Benício del Toro, que me cantar e fazer o que promete nessa música. Acho uma troca justa!

terça-feira, julho 23, 2013

Não há no mundo

Eu sou incapaz de dizer não a ele, mesmo sabendo que ele merecia todas as negativas do mundo.

Eu não consigo dizer não porque não há no mundo quem me conheça tão bem. Não há no mundo quem fale comigo como ele. Não há no mundo quem me toque como ele. Não há no mundo quem me faça rir como ele. Não há melhor companhia no mundo melhor que a dele.

Não houve no mundo quem tenha me magoado como ele e isso simplesmente não importa, porque quando ele me chama, embora minha mente diga "não vá", todo o resto do meu corpo só que se juntar ao dele.




quinta-feira, julho 18, 2013

Todo poder às mulheres

São tempos sombrios para nós mulheres! Em pleno século 21, ainda nos debatemos e nos desgastamos com questões que há muito já deveriam estar esclarecidas e bem resolvidas. O aborto é um delas. Se o óbito é oficialmente decretado quando cessa a atividade cerebral, é lógico que a vida só seja considerada iniciada a partir do momento em que o cérebro é formado, após o terceiro mês de gestação.

Essa é a lógica utilizada em países desenvolvidos, onde a interrupção da gravidez é legal. A relação entre leis mais flexíveis e desenvolvimento social pode ser observada no Mapa da Legislação sobre o Aborto, que o Center for Reproductive Rights (Centro de Direitos Reprodutivos), ONG sediada em Nova York, montou ao pesquisar a legislação em 196 países e estados independentes. O mapeamento divide o planeta em cinco categorias vermelho, vinho, laranja, azul e verde. Pela ordem, vai das leis mais duras às mais flexíveis. O aborto, no Brasil, é tratado como no Haiti, no Paraguai e no Burundi. Vale lembrar, somente México, Cuba e mais recentemente o Uruguay – todo meu amor ao seu Pepe Mujica – possuem legislações abrangentes sobre o aborto na América Latina. 


Sendo assim, figuramos no bloco vermelho ao lado das 68 nações mais pobres, onde vivem 25,9% do povo global. Em suma, apesar dos avanços econômicos e sociais, dos últimos anos, estamos alinhados ao atraso quando o assunto é direito sexual e reprodutivo, direitos das mulheres em decidir sobre o próprio corpo para sermos mais exatas.

Em geral, as nações que criminalizam o aborto são as que exibem o pior desempenho social, os maiores índices de corrupção e violência e também os mais altos níveis de desrespeito às liberdades individuais. Ficou curiosa? Veja os dados aqui.


Para piorar a situação, o crescente poder da denominada “bancada evangélica” promete grandes estragos aos pífios direitos conquistados pelas brasileiras no que tange planejamento familiar e reprodutivo. Basta ver a proposta do famigerado Estatuto do Nascituro, que dá a um conjunto de células humanas direitos e obrigações absolutas ao Estado brasileiro, algumas delas superiores aos direitos das mulheres. Mais informações sobre o projeto de lei que deve cair, por ser inconstitucional, leia aqui



A última de Feliciano
E a dança com um passo para a frente e dois para trás não cessa. Essa semana, Senado e Câmara aprovaram o Projeto de Lei da Câmara dos Deputados (PLC) 03/13, que determina o atendimento imediato em hospitais das vítimas de violência sexual. Ótimo, nós esperamos mesmo que médicos e profissionais da saúde tenham mais sensibilidade que os cães do Estado para lidarem com a situação, mas eis que o demônio travestido de pastor, Marco Feliciano, pediu o veto de dois trechos. Um refere-se ao termo "profiilaxia" e o outro sobre o "fornecimento de informações às vítimas sobre os direitos legais e sobre todos os serviços sanitários disponíveis".

Para o deputado, o fornecimento de informações deve ser vetado, pois não cabe a hospitais oferecer orientação jurídica às vítimas. “Essa é uma responsabilidade das delegacias de polícia e autoridades competentes.” Que ele seria contra o termo profilaxia (que abre uma brecha para a realização de abortos) poderíamos imaginar, mas indicar o veto ao fornecimento de informações é nos mandar direto para a idade das trevas. Quer vomitar? Leia as pérolas do pastor do apocalipse aqui.

Por um mundo com mais mulheres no poder
Esse tipo de cenário é o que me fez adotar a postura de que mulher tem que votar em mulher. Claro, não é mulher tipo a Kátia Abreu, mas nós precisamos desesperadamente de mulheres no poder!

Mulheres dispostas a brigar para que nossos direitos sejam respeitados. Para que tenhamos acesso a planejamento familiar e para que possamos SIM interromper uma gravidez, quando julgarmos não haver condições econômicas, sociais ou psicológicas para sermos mães.  Causas que estão muito além do que os motivos para os quais a interrupção ainda é permitida no Brasil.

Precisamos de mulheres no poder dispostas a sanar o problema da falta de creches em todo o país e que afeta dramaticamente a condição financeira das famílias, bem como coloca em risco nossas crianças, que ficam sozinhas ou sob os cuidados dos irmãos maiores para que os pais possam trabalhar.

Precisamos de mulheres dispostas a peitarem os poderes judiciário e executivo, no que tange o cumprimento da Lei Maria da Penha e que sofre resistência machista por parte dessas instâncias que NÃO cumprem a lei – o que aconteceu com dona Luana Piovani ocorre TODOS os dias dentro de DDMs, fóruns, varas familiares etc! 

Precisamos de mulheres no poder dispostas a defender o SUS, a saúde pública, gratuita e de qualidade, para que nossos índices de mortalidade infantil diminuam e nosso saneamento básico nos encha de orgulho e não mate mais gente por diarreia! 

É preciso eleger mulheres comprometidas com essas causas e dispostas a enfrentarem o patriarcado em prol da liberdade e qualidade de vida para todas as mulheres!

Maioria eleitoral, mas sem representatividade
Em 2010, tive a oportunidade de trabalhar como assessora de uma candidata ao cargo de deputada federal. Durante a campanha, foi visível a dificuldade em superar o fato de que, apesar de ser uma mulher extremamente preparada, doutora, líder feminista na cidade, vereadora bem votada anteriormente e eleita a primeira presidente mulher da câmara, muitos homens indicavam que sua maior dificuldade na campanha seria superar o fato de ser mulher. Só faltou ela ter que se desculpar por carregar uma vagina.  Várias foram as vezes em que a imaginei soltando: “desculpa, gente, é só minha vagina, não é a esfinge olhando pra vocês e os desafiando com um belo decifra-me ou devoro-te”!

A verdade é que apesar de haver cotas para mulheres integrarem as esferas de poder, há uma imensa dificuldade dos partidos em cumpri-las. Mais que isso, sempre que o tema é debatido, é comum vermos homens justificando tal dificuldade como falta de preparo e de interesse das mulheres pela vida política. Nós sabemos que isso não é verdade.

A carga de trabalho, dentro e fora do espaço doméstico, e a falta de participação dos homens na última instância são alguns dos percalços que dificultam a entrada das mulheres na política. Soma-se a isso o fato de que dentro dos partidos, em eventos de formação, por exemplo, as mulheres ainda são deixadas fora do protagonismo dessas atividades. A elas cabem tarefas como organização, limpeza e providências quanto à alimentação. Essa é uma realidade encontrada inclusive dentro de partidos de esquerda que deveriam adotar uma postura mais revolucionária e de quebra de paradigmas. Aqui um desabafo: partidos de esquerda não sabem lidar com questões de gênero e raça. Colocam a luta de classes acima de tudo e não resolvem nem uma coisa, nem outra. Quem já leu “O poder do macho”, da gloriosa Heleieth Saffiotti sabe do que estou falando.

Participação das mulheres na política nacional
Desde que as cotas foram estabelecidas, em 1995, os partidos e coligações foram obrigados a reservar para as mulheres 20% das candidaturas disponíveis, mas os resultados foram insatisfatórios. Em 1997, a reserva para as candidaturas femininas subiu de 20% para 30%, mas como a lei obrigava os partidos a “reservar” as vagas, eles entenderam que não estavam obrigados a efetivamente preenchê-las. PICARETAS! 

Na verdade, o estabelecimento de cotas para mulheres nas eleições brasileiras foi reflexo de um movimento mundial. Ainda em 1995, a Organização das Nações Unidas (ONU) realizou a 4ª Conferência Mundial sobre a Mulher. No documento final, os países se comprometeram a executar políticas que favorecessem a igualdade entre homens e mulheres. As cotas nas eleições ganharam o mundo. Houve avanços dignos de aplausos, como no México, onde a participação das mulheres no Parlamento saltou de 14,2% para 36,8% em apenas 15 anos. Na França, de 6,4% para 26,9%.

Porém, o Brasil continua sendo uma vergonha. Nas eleições do ano passado, 13,3% dos vereadores eleitos foram do sexo feminino. Em Florianópolis e Palmas, nenhuma mulher se elegeu, apesar de as mulheres serem 51% da população brasileira e 52% do eleitorado.

Segundo dados da União Interparlamentar (IPU), de 190 países, o Brasil ocupa a 158ª posição (8,6% de mulheres) em ranking baseado na composição parlamentar. Na política, as mulheres do Iraque (25,2%), do Afeganistão (27,7%) e de Moçambique (39,2%) estão em melhor situação do que as brasileiras.

Como curiosidade, vale mencionar que a Câmara dos Deputados é formada por 513 políticos dos quais somente 46 são mulheres. No senado, de 81 políticos, apenas dez são mulheres, sendo que Marta Suplicy e Gleisi Hoffmann estão licenciadas. Chega a ser constrangedor, mas explica muita coisa! Como é que tão poucas mulheres podem dar conta de demandas tão importantes como o direito ao aborto, ou a queda do Estatuto do Nascituro? São questões muito particulares do universo feminino e pelas quais sempre sofremos, fomos responsabilizadas, criminalizadas. Homens não podem deliberar sobre esses assuntos. Homens têm que levar adiante o que nós definirmos para essas pautas!

Desde 2010, adotei como conduta política votar apenas em mulheres. Mulheres que eu acredito que tomarão essas lutas para elas. Mulheres que podem colocar a bancada evangélica em seu lugar, de onde nunca deveria ter saído: de dentro das igrejas e somente lá dentro, afundando na lama de seus próprios pecados. Em 2014 teremos novas eleições, parece distante, mas está ai. Comecemos a preparar nossas lideranças mulheres para o pleito, comecemos agora a disseminar essa ideia. Precisamos de mulheres preparadas no poder, precisamos eleger essas mulheres, é uma responsabilidade de todas nós! Saudações feministas!


segunda-feira, julho 15, 2013

Sangue novo, sangue bom

Eu gosto do jeito como você fala e das coisas que escreve

Eu gosto de saber que as coisas que sabe foram aprendidas com a vida e não ensinadas na escola

Eu gosto de perceber que o que pode me ensinar são coisas que nenhuma outra pessoa fará por mim

Eu gosto de dar risada com você e de beber cerveja, mesmo quando é Brahma, enquanto você tem ideias e fala sem parar

Eu gosto do jeito como a gente, às vezes, parece deslocado de todo o resto do mundo, ser pária é para poucos, fortes e bravos

Eu odeio quando me chama de Paty e imagina toda uma vida que eu na realidade não tive

Mas eu me divirto e aprendo com você, porque a troca é sincera e verdadeira, aprender junto é uma das delícias de encontrar algumas pessoas pelo caminho! 

quinta-feira, março 07, 2013

Django tupiniquim

Quando soube que o Ministro Joaquim Barbosa assumiria o cargo de presidente do Supremo Tribunal Federal fiquei muito feliz. Afinal, só quem é negro,ou tem familiares negros sabe a dificuldade que é conquistar espaço num país racista. E se você é negro e pobre os percalços se tornam hercúleo.

Apesar da conquista de Barbosa ser um feito que deve ser comemorado por todos nós, me chamou a atenção a maneira como a mídia branca e de direita passou a enaltecer o ministro. Pra quem estudou um pouco semiótica e se dedicou a perder cinco minutos de reflexão, estava claro a intenção da mídia em construir um herói para combater quem? Os bandidos feios, sujos e malvados do mensalão. E ninguém melhor que Joaquim Barbosa para cumprir esse papel.

O “menino pobre que mudou o Brasil” na capa da reacionária Veja, tinha a trajetória clássica do herói de Campbell: pobre, filho de um pedreiro e uma mãe analfabeta, adorava ler, estudou, se empenhou, venceu por mérito próprio e agora? Era o herói que o Brasil precisava para combater a "quadrilha" petista.

O que essa mídia não contava é que Joaquim Barbosa é um destemperado. Durante o julgamento do mensalão, foram várias as ocasiões em que o ministro pesou a mão, às vezes, beirando a grosseria. Quem não se lembra do embaraçoso episódio em que ele disse ao colega Lewandowski, que deveria voltar à universidade e estudar mais. Totalmente desnecessário, mas ilustra bem a personalidade do ministro.

Pois bem, os principais acusados já foram julgados, então para que mais Joaquim Barbosa pode servir ao PIG (Partido da Mídia Golpista)? A mais nada! Nosso Django tupiniquim já cumpriu sua trajetória e pode voltar para a senzala.

Terça-feira, Barbosa deu o tiro de misericórdia na sua relação com os grandes conglomerados de nossa comunicação. O ministro mandou um repórter que trabalha para o Estadão "chafurdar no lixo". Dois dias depois, o jornal solta editorial intitulado “Os barracos do STF”,no qual enumera os “deslizes” de Barbosa e afirma que o estilo do relator deve preocupar, tendo em vista que a partir de 18 de março, ele assume o cargo de presidente do STF, no lugar de Carlos Ayres Britto. “E de forma alguma é descabido perguntar se ele sabe que terá de domar o seu temperamento para conduzir o tribunal com a paciência e o comedimento demonstrados por Ayres Britto - duramente testados, aliás, nos 'barracos' que teve de acalmar no curso deste julgamento”. Não apenas diz que ele deve se portar como o branco fino que o antecedeu, como sugere que seu gênio deve ser “domado”.

Além do editorial do Estadão, Merval Pereira, Dora Kramer e Marco Aurélio Mello já haviam indicado que o destempero de Joaquim Barbosa era prejudicial ao cargo que ocupará em breve. Indico aqui o ótimo artigo do Brasil 247, “Elite começa a descobrir o monstro criado no STF”.

Agora me diga, querem ou não querem enxotar o Barbosa da casa grande? Quando eu expressei essa opinião, hoje cedo, em post do Facebook, alguém veio me dizer que sou racista. Infelizmente ironia é para poucos. O fato é que eu não sou racista, a mídia brasileira é. Quando eu cheguei por aqui, essa merda toda já existia, a única coisa que fiz foi refletir sobre ela. E nesse mundo de homem branco, heterossexual e rico, os negros só têm vez quando os brancos donos do poder deixam.

Se depender de mim, Joaquim Barbosa passará. O meio jurídico é todo polido, vossa excelência pra lá, doutor sem título pra cá. As pessoas se chocam com Barbosa porque ele foge à regra. E o que esperar de um homem negro e pobre que chegou no posto que ele chegou? Não foi baixando a cabeça que ele conseguiu. Foi peitando todo o mundo. Adoro o jeito dele, menos quando é desrespeitoso. Mas quando é ácido, ele é um espetáculo!

     
Joaquim Barbosa em ângulo descontraído

sábado, março 02, 2013

O feminismo, uma pequena visão da morte e eu...

Como bem disse Woody Allen, final de ano é perigoso porque há muitas pessoas por ai andando sem supervisão. Por supervisão, subtenda-se terapia. Sim, sou adepta. Rumo ao sétimo ano do melhor da terapia freudiana e apesar de concorda com Allen, final de ano também é pra mim um momento de introspecção para rever escolhas, caminhos.

Em dezembro, pouco antes do Natal, rompi uma amizade. Rompimentos nunca são fáceis, mas aprendi a fazer isso. O que não me serve, eu simplesmente deixo ir embora, porque até que se prove o contrário, vou passar por essa vida somente uma vez, então, por favor, seja legal comigo, pode ser sua única oportunidade. Tento fazer o mesmo com os outros.

O fato é que esse rompimento me trouxe uma série de questionamentos e constatações. A primeira delas, como eu gostaria de ter deixado o Feminismo fazer parte da minha vida antes. É claro que ele já estava lá, como na tarde em que completei dez anos e minha mãe me arrancou de cima de um muro porque “MENINAS NÃO SOBEM EM MUROS”, ela bradou. Naquela mesma tarde, eu sangrei pela primeira vez. O mundo nunca mais foi o mesmo.

Apesar disso, eu só fui militar no movimento após muito tempo e depois de, sim, ter pulado muitos muros, bem maiores do que o proibido por minha mãe. E foi disso que falei em minha primeira sessão de 2013. De como o feminismo mudou determinados comportamentos, me fez mais seletiva e de como ele teria influenciado algumas escolhas do passado com as quais eu não consegui ser mais firme, mesmo quando precisava. Questões que envolviam meu corpo, meus sentimentos, a maneira como me relacionei com algumas pessoas. Mas isso já passou, eu não tenho como fazer diferente, mas posso me tornar uma mulher melhor.

E isso passa por não aceitar comentários sexitas, mesmo que venham de pessoas que gosto muito. Menos ainda comentários preconceituosos e que demonstram nítido desprezo e ódio pelas mulheres. Pessoas dessa categoria não merecem estar ao meu lado. Porque eu simplemente não me importo com a roupa que as pessoas vestem, ou com o fato de elas tentarem parecer o que não são. Se elas e eles estão felizes, vivendo a mais dura realidade, ou a mais insana fantasia, isso não é da minha conta.

E isso tudo não me diz respeito porque a vida é muito curta. Em dezembro, um conhecido foi passear na Ilha do Mel. Eles escorregou, caiu no mar e morreu. Era uma pessoa ótima, saudável, capoeirista, fazia um trabalho lindo com a molecada. E ele simplesmente morreu. Tão jovem. Mas acho que viveu do jeito que quis o tempo que ficou por aqui. Isso não é ótimo?

No dia 10 de fevereiro, eu fui internada. Tive apendicite, uma pequena hemorragia e, mais 24 horas, ele teria supurado. Entre o susto de ter que fazer uma cirurgia de emergência, ter que tomar anestesia geral, que eu morro de medo - não sabemos se acordaremos do lado de lá ou de cá - eu me vi perguntando se eu estava vivendo a vida como queria.Sim.

Minha vida não é perfeita. Eu não conheci metade dos lugares que eu desejo, eu não fiz um mestrado, não li todos os livros que tenho na prateleira, não tive um filho e ainda não estou muito certa se quero ser mãe, eu não amei de novo da maneira que gostaria. Porém,  em muitos sentidos, eu tenho levado a vida que eu acho digna. Uma vida coerente com o que penso, o que sinto e coloco em prática. E isso se intensificou muito depois do feminismo. Não foi sempre assim, mas as escolhas que fiz no passado também fazem parte da pessoa que sou hoje. Mesmo aquelas das quais me arrependo.

Não sei o que acontece depois que a gente morre e tenho pensado muito nisso. Não dá pra fugir, não é? A morte, às vezes, é angustiante porque simplesmente não temos a menor ideia do que acontece depois, se é que acontece algo. O que importa, então? Importa seguir coroando-se rainha ou rei de si, independente do que as pessoas pensam sobre você e o tanto quanto elas podem ser cruéis. São as minhas escolhas, é simplesmente entre eu e a maneira como quero levar a vida.


domingo, novembro 11, 2012

Existe machismo na esquerda

Ontem, meu sábado foi dedicado à causa feminista. Passei o dia num seminário intitulado “Há machismo na esquerda”. O evento foi articulado pelos coletivos Anastácia Livre, Mulheres do DAR, Revolução Preta e Violeta Parra.

Sim, sou feminista e isso não significa nem de longe que eu odeie homens ou que eu seja lésbica, associações muito comuns que os leigos ou pessoas maldosas costumam referenciar ao conceito. Sou feminista porque eu acredito que o fato de ter nascido com uma boceta no lugar de um pau me colocar em desigualdade histórica com os homens e eu não acho justo e não quero que aconteça com a minha mãe, com as minhas amigas, com minha sobrinha, com uma filha, se acaso eu tiver uma, e tampouco quero que aconteça com qualquer mulher conhecida ou desconhecida. Isso de uma forma bem básica.

Pois bem, em outubro, participei de um evento promovido pela Marcha das Vadias Sampa e me chamou muito a atenção o debate de algumas meninas presentes, que militam em movimentos sociais das mais variadas causas e que reclamavam do machismo sofrido nestes espaços. Isso ia desde ficarem responsáveis pela limpeza e organização dos espaços de encontro, em detrimento da participação nas discussões, até agressões físicas e verbais, quando se opunham ou questionavam decisões. Foi o que me levou ao evento de sábado. Era dedicado ao tema e achei que poderia me aprofundar na questão.

Bom, a primeira constatação foi que todos os presentes, mulheres e homens, assumiram a existência do problema. Acho que é o primeiro passo para combatê-lo, mas o que seguiu daí pra frente foi estarrecedor e me faz questionar muito se eu quero mesmo fazer parte desta esquerda que não é de nada há muito tempo. O que me deixou realmente chocada, foi ouvir de mulheres, não sei de quais movimentos, porque realmente tive medo de perguntar, que os casos de violência dentro dos grupos de esquerda devem ser resolvidos internamente, pois a Lei Maria da Penha serve para “encarcerar nossos militantes pobre e negros”.

Eu estava preparada para ouvir de um tudo, mas nunca achei que dentro de um evento promovido por grupos feministas eu escutaria alguém dizer que a Lei Maria da Penha era um retrocesso e servia de instrumento para promover a política podre de nossa polícia de discriminação. Não, definitivamente eu não estava preparada para isso. E vamos combinar, agressor não fica preso, ele paga meia dúzia de cestas básicas e volta pra casa pra ensinar a mulher como não denunciá-lo, batendo nela de novo.

Eu acredito sim que eventos violentos como não aceitar que as colegas se pronunciem, gritar, xingar são casos que podem ser resolvidos dentro das orgânicas do movimento, com diálogo, principalmente mostrando ao agressor que o movimento é de todos e que ele está reproduzindo o machismo, que nada mais é do que instrumento de poder da estrutura que eles combatem. Agora, não me venha dizer que casos de espancamentos e abusos devem ser combatidos dentro da estrutura do movimento porque eu não quero participar de movimento com caráter de PCC em que temos um tribunal paralelo.

Eu quero as vítimas sejam ouvidas, o que não vem ocorrendo, e quando houver violência física, seja de qual caráter for, que seja denunciada. Porque foram anos pedindo uma lei que punisse a violência contra a mulher, pra que ela seja colocada de lado sob o argumento de que devemos preservar a causa. Que movimento é este que precisa tanto ter um agressor em sua estrutura a ponto de orientar mulher a não denunciar seus agressores. Um movimento que precisa de um agressor em sua estrutura pra mim não serve. E é isso o que acaba ocorrendo, as mulheres abandonam estes espaços políticos, porque não se sentem seguras, enquanto os agressores continuam seus caminhos, como se nada houvesse ocorrido. Eu quero que os agressores sejam punidos, sejam eles brancos, pretos, ou azuis de bolinhas amarelas.

A segunda coisa que me deixou chocada foi o questionamento sobre a solidariedade à mulher. Bom, quem já teve contato com mulheres que sofreram violência sabem o quanto é difícil elas falarem sobre a violência. Elas sentem vergonha, medo e muitas vezes culpa que é inculcada pelo próprio agressor, como forma de mantê-la calada. Quando uma mulher chega a mim e diz que sofreu uma violência, serei sim solidária a ela, porque é uma mulher diante de você que está em seu limite, pedindo, socorro.

É claro que não apoio a Elisa Matsunaga ter feito picadinho do marido, mas eu tenho certeza, pelo perfil do morto, que a todo momento ele fazia questão de lembrá-la de onde ele havia a tirado, de como ela perderia a filha, que ela não passava de uma prostituta. E neste ponto, desculpa, sou solidária a Elisa, MAS também quero que ela vá para a cadeia porque matou um homem.

A mesma pessoa que apontou a Lei Maria da Penha como instrumento do Estado (conta uma novidade é uma lei), que questionou a solidariedade às vítimas, também condenou os escrachos como forma de apontar os agressores, citando o caso do escracho de um militante do Movimento Passe Livre. Ela, o nome da pessoa é Simone, disse que o escracho ao agressor foi feito num momento em que o Movimento estava com grande visibilidade da imprensa e por isso não deveria ter sido feito. Segundo a própria vítima, o escracho foi o que possibilitou a ela terminar as disciplinas que cursava e por isso, toda solidariedade a ela. O que coloco novamente à dona Simone, que eu gostaria muito que lesse este texto, é porque ela culpa a vítima e não o agressor pelo ocorrido? Quem estava ameaçando a ex-companheira era ele. Por que o movimento não tomou providências se era tão interessante não ter esta exposição negativa na mídia? E escracho por escracho, somos escrachadas todos os dias, quando passam por nós e nos chamam de gostosa, quando quebram nosso braço em balada porque não quisemos dar trela pro babaca! Vamos novamente culpar a vítima?

Movimentos sociais são construídos por indivíduos engajados que acreditam em determinadas causas. Não há movimento sem a participação destas pessoas. O movimento não se sustenta se estas pessoas não forem vistas como indivíduos, se os problemas relatados dentro da orgânica destes espaços não forem tratados com medidas assertivas e de acordo com sua gravidade. Se é esta esquerda que estão construindo, que precisa tanto de homens violentos para que o coletivo não se enfraqueça, desculpe, eu prefiro ficar em casa! E isso que ocorre quando uma vitima tem apoio negado nestes espaços.

Achei que estivesse pronta para militar em outras causas, que não somente as feministas, porque eu quero mesmo viver num mundo melhor, mas com a esquerda que vi ontem, prefiro me manter somente nos espaços feministas que frequento e que são seguros. Desta esquerda pelega e nauseante eu quero distância!

Solidariedade feminista SEMPRE!

quinta-feira, agosto 09, 2012

Sobre música e grandes dores de amor

O amor, na minha opinião, é a pior coisa que pode acontecer às pessoas. É pior que perder um braço, é pior que não poder comer o que se gosta por conta de doença, é pior que injeção de Benzetacil em unha encravada! E por que é tão ruim? Porque uma hora acaba. Todo o amor, na minha cética opinião, acabará. Uns mais cedo, outros mais tarde, mas o fim é certo.

E dói, por Deus, que dor medonha! Felizmente, os tropeços nos fazem aprender. Antes, eu morria, mesmo, sem exagero, era um horror enfrentar o fim de um relacionamento. Mas faz algum tempo, aprendi a apreciar este momento tão temido – o fim de um amor. E vou além, eu sempre começo algo, pensando neste finzinho. Se será trágico, se será poético, se será calculado. E na sequência em penso: que música será que vai embalar o meu sofrimento?

Bom, geralmente, minha veia mexicana começa pelo clássico “Negue”. Ccomo é bom cantar aquilo embriagada, os olhos manchados pelo rímel, o rosto vermelho que dá aquele ar todo especial de palhaço à sua cara. No final da dor de cotovelo, sempre sei que estou me recuperando, quando o repertório muda para “Olhos nos olhos”.

Nesta hora, sei que estou pronta para recolher os cacos pelo chão! O cabelo meio despenteado, a calça de moletom com um furo na bunda, a blusinha velha de lá que protege do frio medonho que uma dor de amor provoca. Sobe o BG “olhos nos olhos, quero ver o que você faz, ao sentir que sem você eu passo bem demais”. Nesta parte, me sinto pronta para encarar o mundo de frente novamente. Estou curada! Porque eu também aprendi que isso passa, que não há dor de amor nesta vida capaz de matar o sujeito por si só. Superação está no DNA do ser humano, por menos que a gente teime em acreditar nisso.

Nariz de cera gigantesco – é meu blog, eu posso para dizer que ontem, fui ao cinema ver o documentário “Vou rifar meu coração”. Ele basicamente fala sobre “o Brasil romântico, a música, a dor”. Eu gosto muito de documentário, principalmente aqueles que se focam em contar a história das pessoas. E é isso que ele faz. Ele junta o corno, o desiludido, a prostituta, o travesti, o gay, a esposa e a outra, o mulherengo numa sequência de imagens para contarem para contar porque cada um deles já sofreu por amor. E todos estão acompanhados de grandes nomes da música romântica popular, ou brega, como se acostumou denominar Odair José, Agnaldo Timóteo, Waldick Soriano, Evaldo Braga, Nelson Ned, Amado Batista e Wando, entre outros.

Pensa numa coisa bonita de ser ver e ouvir. Pessoas de verdade, gente feia, desdentada, gorda, gay, transexual, nos inferninhos mais horrorosos que a produção conseguiu encontrar, gente de verdade, tão diferente do que costumamos ver dentro dos padrões Globo, todas dizendo que, quando se fala de amor, não importa se você está numa casa de palafita, ou numa cobertura de Leblon, a dor entra rasgando peito adentro e isso é lindo.

Porque viver é amor, mas também ódio; é saúde, mas também doença; é alegria e também tristeza. Esta tensão que não nos deixa nunca. E que nos faz fortes, nos faz bravos, nos faz recomeçar a cada dia! Mais que isso, é o que me faz achar a humanidade insuportável, mas é o que também me encanta em ser gente e gente é outra alegria, não é mesmo?


Se você gosta de gente, de música e de amor, bem sucedido ou não, veja lá

domingo, julho 15, 2012

Uma segunda oportunidade, todos nós merecemos

A mesma conversa que rendeu o post anterior agora dá origem a este. Acho incrível o movimento de rotação da Terra. Eu não sei se é responsabilidade de Deus, ou mero capricho do universo. O fato é que a cada dia que nasce, ganhamos de Gaia a oportunidade de recomeçar - momento Arembepe.

E se a Terra, que é imensa, pode nos dar esta demonstração de generosidade, por que nós não faríamos isso por um amigo, por um amor que que apareceu num momento errado, por nós mesmos?

E sim, há o medo, há a confiança a ser reconquistada, não é um caminho fácil. Exige coragem e coração grande. Exige disposição e vontade de pagar pra ver. Porque sempre pode ser a mesma merda, como da primeira vez, o que é frustrante. Também pode ser pior, afinal, pra pior não há limite. Mas, acima de tudo, às vezes, uma segunda chance é a única coisa que precisamos pra fazer tudo diferente e melhor. Eu sempre pago pra ver! 

terça-feira, julho 10, 2012

A gente não perde o que nunca teve (será)?

Tenho dois amigos queridos. Um menino e uma menina. Nossa amizade tem 18 anos, é uma amizade adolescente, como costuma dizer a menina! Devaneios à parte, literariamente eu juro que isso tem outro nome, mas não lembro agora. O fato é que somente eles conhecem algumas de minhas mais tristes facetas, no caso a de romântica inconsolável.

Por quê? Bom, primeiro porque eu não me considero romântica. Me incomoda deveras todo o blablabla que as pessoas românticas inventam para explicar os percalços e conquistas amorosas. Eu acho um saco. Prefiro ser prática. Deu, que ótimo. Não rolou, vamos ao próximo. Porém, vez ou outra, fraquejo!

E desta vez eu sucumbi em meio a um tremendo rega-bofe. Sexta-feira, saímos para comemorar o aniversário adiantado do menino. Comemos horrores e daí chegou a hora em que nosso clube invariavelmente vira o filme “O clube dos cinco”, mas só com três, e começamos a falar de todas as pedras encontradas no meio do caminho!

Pausa dramática. Eu respiro e digo: “eu conheci um cara tão legal! Inacreditavelmente legal. Ele não me disse grosserias – eu não sei porque, são os sinais tortos que emito, mas os homens pensam que podem falar qualquer bobagem pra mim. Pois é, ele não disse. E ele gosta de Ramones, Bowie, e é divertido, e quer fazer curso de desenho, e está procurando trabalho voluntário, e é espiritualizado, gentil, e me fez rir, e ele sorriu com o que eu disse, e ele é bonito, e beija bem pra caralho, e trepa exatamente do jeito que eu gosto. E nos vimos somente duas vezes, e eu costumava amá-lo, mas tive que matá-lo”.

Bom, foi mais ou menos isso. Sabe-se lá por qual motivo, razão, ou circunstância - não perdi tempo tentando entender porque sou prática a maior parte do tempo - um dia eu recebi como resposta a um convite bem desencanado o seguinte torpedinho: “este não é o melhor jeito de fazer as coisas, é o jeito mais covarde, você é uma pessoa bacana, mas eu acho que a gente pode ser só amigo”. HEIM?

Bom, esta resposta veio meio tarde. Mais precisamente um dia depois de eu ter faltado ao trabalho porque acordei surtada, sem a menor condição de sair de casa porque eu precisava chorar. Eu precisava chorar horrores, desesperadamente, como se não houvesse amanhã. Aliado ao choro descompensado, tomei 12 comprimidinhos de Fluoxetina que eu mantinha guardado para casos emergenciais numa caixinha escondida.  Pensei em beber, mas não fiz, porque como sou prática, achei que se sobrevivesse, eu mesma teria que limpar meu próprio vômito.Dormi, e quando acordei viva, quase 12 horas depois, fui à terapia me martirizar mais um pouquinho.

E tudo isso por que eu me apaixonei loucamente por um cara que vi somente duas vezes? NÃO! Tudo isso porque o mundo está miseravelmente desinteressante. E pra todo lugar que você se vira, é só gente falando de bunda, peito, o último modelo mega power de celular, o carro do ano, o quanto se gasta numa balada só com bebida. E isso é chato, é cansativo, é tão longe do que eu realmente aprecio nas pessoas!

Ai, aparece alguém que não fala de nada disso. Pelo contrário, ele diz coisas que você gostou de ouvir, de compartilhar. Alguém que faz o tempo passar voando, e sei lá por qual cilada do destino – eu sou prática, volto a repetir – a coisa toda simplesmente não decola.

Não foi a dor de ter perdido uma paixão avassaladora. Foi a dor do que poderia ter sido construído. O milhão de possibilidades perdidas. As boas histórias que só duas pessoas com afinidades conseguem  vivenciar! O tremor que o amor pode ocasionar a um coração e alma aparentemente apaziguados.

Porém, a pergunta que não me deixa em paz é: sabe quanto tempo eu terei que andar por ai, neste deserto horripilante de pessoas interessantes até eu encontrar outro cara como este? Só de pensar, tenho vontade de tomar mais Fluoxetina, mas acabei com meu estoque no famigerado dia já citado.

Então, eu contei tudo isso aos meus bons e velhos amigos, após uma sessão tortuosa de comilança, em meio a um restaurante cheio e com os olhos cheios d’água. E sem álcool, o que tornou o processo mais doloroso.  E eles me entenderam porque só amigos verdadeiros entendem estes vexames. Eles entenderam que eu chorava não pelo cara, mas pela perda do valioso bem que foi embora, sem que eu nunca o tivesse tido. Passou. Está passando! 



 

Karina e André, este é pra vocês! Obrigada por estarem sempre comigo! Na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, até quando a vida permitir que dure! 


quarta-feira, junho 06, 2012

Eu sou uma farsa


Eu sei as coisas que gosto! Eu sei bem, cada uma delas. Eu gosto de ser livre, gosto de quem me deixa quieta sem muitas perguntas, gosto de dormir até tarde, gosto de receber e ver que minha grana vai dar pra pagar todas as presepadas acometidas. Gosto de moto, de vento, de mar, de cachoeira. Adoro o verão e sou doida pela lua.

No último ano, aprendi a gostar um pouco mais de mim. Foi um ano conturbado. Me envolvi em um relacionamento fadado ao fracasso, porque estava tudo uma merda mesmo, mas pelo menos que tinha com que me distrair – e fazer sexo!

Economizei dinheiro; realizei uma viagem sem planejamento nenhum, mas divertida; li coisas bacanas; bebi uma bela garrafa de vinho californiano, enquanto cantava Secos e Molhados; trabalhei feito uma camela e descobri que há dinheiro que não compensam; fui ao show do Morrissey sozinha e me achei a melhor companhia e, acima de tudo, fiquei muito sozinha.

Saca a solidão do processo de cura? De se voltar pra si próprio, de saber o que você precisa ou não em sua vida? Fiquei sozinha por bastante tempo , remoendo coisas, superando outras e pensando na pessoa que eu queria sair depois deste processo. Uma pessoa feliz com si própria, que não coloca o seu estado de espírito nas mãos de ninguém?

Pois é, eu achei que tinha conseguido isso. Achei mesmo, pô! Eu até troquei sexo por amores platônicos, porque vamos combinar, sexo é um lance superestimado!

Pois bem, bastou um, um cidadão me tratar um pouquinho melhor que os demais e, aparentemente, só pra me comer, que toda a minha construção de mulher moderna e livre ruiu! RUIU!

Que tipo de mulher moderna, que faz questão de pagar suas contas, que vai a shows e bares sozinha, que consegue fazer sexo com qualquer um sem se apaixonar, que trepa na primeira vez porque, se o cara não quiser vê-la mais por causa disse é ele que é um babaca e não ela que é uma vadia? Como alguém assim pode sucumbir a um pouco de carinho e atenção? Heim?

Só há uma resposta pra isso, duas talvez: eu sou uma rata e não uma mulher e eu sou uma rata carente! Achei que durante este período sabático teria realmente me deixado mais forte, mais senhora de mim, but NO NO NO, como já profetizou Amy!

O que isso significa? Que ainda não estou pronta, que ainda não consigo ser a pessoa que quero ser e tome mais abstinência de qualquer diversão por mais tempo. Porque eu quero e exijo ser uma fortaleza, eu exijo! É um mundo duro lá fora e, em minha opinião, só as rochas sobrevivem.

Estou tão cansada! Eu só queria estar certa sobre o caminho uma vez! Certa de primeira. Eu estou tão cansada e some-se a isso, me descubro uma farsa. Eu não quero ser uma farsa, não quero. Relacionamentos pra mim devem ser equilíbrio e não esta confusão de sentimentos. Ainda não posso, ainda não consigo! 


terça-feira, maio 15, 2012

E no meu mundo louco, Carolina Dieckmann é vítima e não vilã

Não, eu não vi a entrevista da Carola Dieckmann no Jornal Nacional porque estava fazendo coisa melhor – última aula do curso de literatura latina com o Juan Pablo Lindo Villalobos – sou superior!


Ai, eu chego hoje e está todo mundo jogando pedra na Geni do século 21. Então, eu queria entender só uma coisa. A mulher tira umas fotos peladas pro marido, por ignorância arrisca os dados na net – quem nunca – tem as fotos pessoais, íntimas, tiradas na privacidade do lar ou da puta que pariu roubadas. É chantageada, não sede à chantagem – o que eu acho ótimo porque chantagista é escória – e tem as fotos jogadas na net. O meu constrangimento aqui é o seguinte: por que o linchamento público e moral é DELA e NÃO dos criminosos que roubaram, chantagearam e publicaram as fotos ilegalmente? Por que é que as pessoas riem da cara dela, quando ela diz que se preocupou com o que o filho de 13 anos pensaria? Aliás, alguém consegue imaginar o que o infeliz tá passando na escola, porque criança sabe pegar pesado, né?  


A resposta é bem básica MACHISMO. É o mesmo princípio que leva gente a achar que mulher é estuprada porque não usou roupas "adequadas" e não porque o estuprador é um doente. Pra que esculachar os hackers chantagistas, se podemos colocar a mulher, que tem sua sexualidade resolvida, um marido bonito, atriz bem sucedida mais uma vez na fogueira? E sabe o que mais me mata, eu não vejo só homens tendo este tipo de atitude. Puta gentinha machista e recalcada!








quarta-feira, maio 09, 2012

Aos espíritos livres

Sou uma pessoa que tem suas crenças. Tenho minha religião, faço banho de descarrego, de proteção, bato cabeça para meus orixás, me visto de branco, dou passagem aos meus guias. É nisso que acredito, mas não só nisso.

Eu acredito na ciência. E por acreditar na ciência, me emociono ao saber que Galileu Galilei foi obrigado a negar comprovação da hipótese heliocêntrica de Copérnico, lutando sem êxito, contra o dogmatismo e a superstição que travavam o progresso da ciência naquele tempo. Duas vezes, Galileu foi obrigado pela Igreja Católica Apostólica Romana a decretar que as ideias de Copérnico eram falsas e que o Sol era quem girava ao redor da Terra.

Eu acredito na filosofia. E por acreditar na filosofia, me é tão forte a busca de Nietzsche pela origem do bem e do mal. E que esta busca seja realizada de uma forma imparcial, como ele evidencia no primeiro ensaio da obra: “(...) desejo que estes investigadores, que estudam a alma ao microscópio, sejam criaturas generosas e dignas, que saibam refrear o coração e sacrificar os seus desejos à verdade (...) ainda que simples, suja, repugnante, anticristã e imortal... porque tais verdades existem”.

Eu acredito em Platão e no “Mito da Caverna”. E por acreditar nisso, tenho “aletéia” tatuada em meu braço. Porque enquanto a pessoa fica passiva, presa às aparências, eu quero sempre ir além. Porque eu prefiro morrer, a ficar presa na ignorância, no limiar das aparências. Para se chegar à verdade, é preciso movimento, busca, conhecimento. As sombras, pra quem leu o texto, num resumo raso, é toda a realidade e toda a verdade para aqueles que não saem da caverna e se contentam em acreditar nelas. Eu quero ir além da caverna e por isso, não julgo a realidade dos outros pelo que acontece ao redor do meu próprio umbigo. A batalha da outa não é a minha e, acredite, são batalhas difíceis!

"A caverna subterrânea é o mundo visível. O fogo que ilumina é a luz do sol. O acorrentado que se eleva à região superior e a contempla, é a alma que se eleva ao mundo inteligível. É este pelo menos meu modo de pensar (minha verdade pessoal), que só a divindade pode saber se é verdadeiro (relatividade da verdade com relação à divindade). Quanto a mim, é como passo a dizer-te. Nas últimas fronteiras do mundo inteligível está a ideia do bem criador da luz e do sol no mundo visível, autora da Inteligência e da Verdade no mundo invisível e sobre a qual, por isso mesmo, cumpre ter os olhos levantados para agir com sabedoria nos negócios individuais e públicos." 
Eu acredito em direito. Mais que isso, acredito piamente em direitos civis e me agride profundamente quando vejo-os sendo desrespeitados por quem sequer tem bons argumentos.

“Os direitos civis referem-se às liberdades individuais, como o direito de ir e vir, de dispor do próprio corpo [interrupção de gravidez, eutanásia e até mesmo a liberdade de entupir a bunda de droga até morrer], o direito à vida, à liberdade de expressão, à propriedade, à igualdade perante a lei, a não ser julgado fora de um processo regular, a não ter o lar violado.

Esse grupo de direitos tem por objetivo garantir que o relacionamento entre as pessoas seja baseado na liberdade de escolha dos rumos de sua própria vida - por exemplo, definir a profissão, o local de moradia, a religião, a escola dos filhos, as viagens [novamente, escolher se é a melhor hora ou não para ter um filho, se quer ou não viver como um vegetal, se vai ou não ser mais feliz entupindo a bunda com droga] - e de ser respeitado por qualquer que seja a escolha, porque ela é individual, logo dispõe sobre como o “INDIVÍVIDUO’ prefere conduzir a própria vida! Não a vida do parceiro, não a vida da mãe, pai, avô, papa, periquito. É o que ela(e) quer pra vida! Por isso, direitos civis dizem respeito à liberdade de cada um e não à liberdade do outro.

Ter os direitos civis garantidos, portanto, deveria significar que todos fossem tratados em igualdade de condições perante as leis, o Estado e em qualquer situação social, independentemente de raça, condição econômica, religião, filiação, origem cultural, sexo, ou de opiniões e escolhas relativas à vida privada.” (EducaRede

Então me diz, por que diabos eu não posso viver num país em que, a decisão de uma mulher julgar apropriada ela ter um filho naquele momento tem que ser decidido por bilhões de pessoas que não têm ideia do que aquela diaba está passando na vida? E quando eu digo isso, estou me referindo a abandono por parte do pai, que nunca é punido, a não ter condições econômicas, a não ter condições psicológicas e, em última instância a simplemstente não querer.

E não me venha falar em pílula ou camisinha, porque eu não sou hipócrita em falar que TO-DAS as vezes nas quais eu tive uma relação sexual eu estava totalmente protegida. E quem nunca passou por isso e tiver coragem de atirar a primeira pedra, venha pro pau!

Eu quero sim viver num país onde eu possa decidir se quero continuar viva ou não, caso eu fique tetraplégica, ou não possa mais ganhar a vida como eu ganho, escrevendo, porque eu acho realmente que eu me sentiria menos digna sem a minha profissão. E foda-se, se na sua opinião, eu pareça uma fraca. Forte é você saber o que é melhor pra sua vida.

Tem gente que tem uma vida de merda e se mata de se drogar porque jura que desta maneira as coisas parecem melhores. Quem sou eu para julgar isso? É a vida dela, não são as minhas dores, eu não posso interferir nisso. O mínimo que eu posso querer é um Estado que se coprometa em ampará-la no momento em que ela quiser parar com isso e não conseguir.

É este o mundo no qual quero viver. Porque eu não quero que ninguém aponte a merdinha do dedo indicador pra dizer o que é melhor pra vida vida, baseados em uma moral falida e em dogmas religiosos que mataram milhões em fogueiras.

Então, eu sou a favor da interrupção da gravidez, sou a favor da eutanásia, sou a favor de os gays terem os mesmos direitos dos heterossexuais no quesito casamento, sou a favor de um Estado laico, porque religião é escolha pessoal e por isso não deve interferir nas decisões individuais das pessoas. E é o Estado quem deve garantir isso. Então, bebê, se você se sente ofendido com o que eu posto na porcaria do Facebook, no Twitter, na conchichina, sobre estas questões, simplesmente me deixe!

Porque, desculpe, na minha opinião a minha luta é maior que a sua. Eu luto e acredito num mundo em que você, por exemplo, engravide e, mesmo julgando não ser o momento, possa dar continuidade à sua gravidez por seja lá quais motivos você tiver; enquanto outra mulher, na mesma situação, tenha a opção de interrompê-la pelos motivos que ela tiver, amparada pelo Estado, independente de ela ter dinheiro ou não para fazer isso de uma forma segura, como acontece hoje. 

Pelo direito de decidir sempre! 



quarta-feira, abril 04, 2012

Um respiro

Às vezes me sinto tomada por uma total falta de esperança, descrença, tédio. O mundo inteiro me parece chato, enfadonho. E não sou arrogante a ponto de pensar que o problema é com os outros, que eles não são bons o suficiente pra mim. Sei o peso de minha responsabilidade sobre estas sensações.

Então eu me fecho, me entrego a mim mesma, questiono, pergunto, penso e repenso em mil coisas feitas e em mais mil maneiras de fazer diferente, e em todos os resultados possíveis. E eu leio como se não houvesse amanhã e tivesse que ler tudo hoje. E só livros que me provocam, capazes de me fazerem uma revolução. E é sempre um processo solitário e difícil olhar pra dentro de si mesmo, mas também é reparador.

É reparador porque cada vez que sub Às vezes me sinto tomada por uma total falta de esperança, descrença, tédio. O mundo inteiro me parece chato, enfadonho. E não sou arrogante a ponto de pensar que o problema é com os outros, que eles não são bons o suficiente pra mim. Sei o peso de minha responsabilidade sobre estas sensações.

E então eu passo a amar de novo e amo acima de tudo as pessoas que, dê alguma maneira, foram meus oásis nos momentos de questionamentos. Que mesmo eu estando inserida num árido cotidiano, me ajudaram a pensar, me fizeram rir, me provocaram, me mostraram outros pontos de vista, me estenderam as mãos nos momentos de fraqueza, me ensinaram coisas novas, me deram um respiro, me fizeram acreditar que apesar de estar foda, o processo sempre pode ser divertido, se estamos do lado das pessoas certas.

Eles não estão sempre comigo e é provável que com muitos eu não cruze mais nesta vida, mas em algum momento, eles ajudaram a oxigenar minha existência, a torná-la mais leve, tenha sido por conta de um e-mail no meio da tarde, uma piada que só a gente entende, uma tarde best de sol, ouvindo música e falando merda, um domingo sentado na Paulista olhando pro nada e pensando na vida, um show de punk daqueles de lavar a alma. Tenho sorte de cruzar com pessoas assim, de vez em quando. E tome a vida o caminho que ela tiver que seguir, estas pessoas me ensinaram algo, me mostraram uma alternativa, me deram um respiro e sou grata, imensamente grata a todas elas.


segunda-feira, janeiro 23, 2012

Aos meus fantasmas...

Hoje encontrei dentro de um livro uma velha carta amarelecida,
Rasguei-a sem procurar ao menos saber de quem seria...
Eu tenho um medo
Horrível
A essas marés montantes do passado,
Com suas quilhas afundadas, com
Meus sucessivos cadáveres amarrados aos mastros e gáveas...
Ai de mim,
Ai de ti, ó velho mar profundo,
Eu venho sempre à tona de todos os naufrágios! (Mário Quintana)

quarta-feira, dezembro 21, 2011

Um copinho de cicuta

Eu estou passando por um período difícil nos últimos dias. Então, hoje resolvi meter o pé na jaca. Tudo começou quando eu comi quase 300 gramas de salmão acompanhado de bolinho de arroz. Não satisfeita, comi um mouse de cupuaçu. Já estava indo embora, quando chegou um bolo de cenoura fresco que matei com um café expressito.

Pensei: "ótimo, agora eu morro de indigestão e todos os meus problemas acabaram",mas eu consegui me levantar da mesa. Segundo minha mãe, não morri porque Deus não quis. Aliás, Deus e eu estamos numa briga ferrenha nos últimos tempos.

PORRA, Deus, custava me matar lá mesmo no café, com a cara melada no bolo de cenoura? Mas que matar que nada, Deus quer que a gente aproveite cada pequeno momento horrível que a vida pode nos proporcionar. É para o aprendizado, segundo o senhor Kardec. Às favas com o aprendizado, eu quero um copo de cicuta agora!

quarta-feira, agosto 31, 2011

A mulher negra na mídia

Participei de um curso promovido, no Sindicato dos Jornalistas de SP, chamado “Gênero, Raça e Etnia para Jornalistas”, porque acredito que a gente sempre pode melhorar como pessoa e como profissional, né? Ontem, tivemos um exercício que foi muito bacana: ler matérias publicadas na Folha de São Paulo, G1 e IG, por exemplo, sobre os grupos abordados no curso, e como eles veiculam matérias destes grupos em suas notícias.

No caso do meu grupo, analisamos uma chamada da Folha Online para duas notas publicadas na coluna da Mônica Bergamo e que é de deixar qualquer um bem preocupado com o que consumimos, em termos de notícias, por ai. Seguem as matérias e uma breve análise dos causos!

06/07/2011 - 08h50

Diretora é condenada por chamar professora de "macaca" em SP

DE SÃO PAULO

A diretora de uma escola pública de São Paulo foi condenada a um ano de prisão por ter chamado uma professora negra de "macaca". A pena, no entanto, foi convertida no pagamento de um salário mínimo, segundo a coluna Mônica Bergamo, publicada na edição desta quarta-feira da Folha.

A coluna completa está disponível para assinantes da Folha e do UOL (empresa controlada pelo Grupo Folha, que edita a Folha).

De acordo com a coluna, Francisca Teixeira disse, ao receber Neusa Marcondes em sua sala: "Entra aqui, macaca, venha assinar esse documento".

A defesa da diretora alegou que ela se referia à "hiperatividade" da professora, que estaria pulando e fazendo brincadeiras com as colegas. A Justiça não aceitou o argumento.

O advogado da diretora, Alexandre Barduzzi Vieira, disse que vai recorrer. "Ela foi infeliz de usar essa palavra, que por si só não pode ter carga suficiente para caracterizar um crime", diz.

Vamos começar pelo título! Observem que o crime de injúria racial é omitido. A diretora foi condenada porque usou o termo “macaca” pura e simplesmente. Não há a preocupação em informar por qual crime a dita senhora foi condenada.

Perderam a chance, inclusive de esclarecer qual a diferença entre crime de injúria racial e racismo. Como a gente pretende fazer diferente, peguei um link bacanudo que explica direitinho o trem pra gente não permanecer na ignorância! Eu, por exemplo, não sabia que tinha diferença, pra mim era só racismo e ponto. Clica nesta gracinha "O que é realmente segundo a lei Injúria Racial X Racismo".

Ai, o que temos em seguida? A declaração pompilha pomposa do advogado da acusada – atenção, só da acusada – que tem a oportunidade de apresentar mais uma vez a defesa da criminosa – sim, porque ela foi considerada culpada. Além de dar voz somente à acusada, deixando a vítima negra e mulher de fora, pra melhorar a palhaçada, o advogado minimiza a questão dizendo que a palavra “macaca” por si só NÃO poderia caracterizar o crime.

Mas vai ficar melhor, ou pior, vocês decidem. Vamos às notas da senhora Mônica Bergamo.

MACACO NA JAULA (heim?)

A diretora de uma escola pública de SP foi condenada a um ano de prisão -convertido no pagamento de um salário mínimo- por ter chamado uma professora negra de "macaca". Francisca Teixeira disse, ao receber Neusa Marcondes em sua sala: "Entra aqui, macaca, venha assinar esse documento". A defesa da diretora alegou que ela se referia à "hiperatividade" da professora, que estaria pulando e fazendo brincadeiras com as colegas. A Justiça não aceitou o argumento.

ORIGEM DAS ESPÉCIES (acuma?)
O advogado da diretora, Alexandre Barduzzi Vieira, vai recorrer. "Ela foi infeliz de usar essa palavra, que por si só não pode ter carga suficiente para caracterizar um crime", diz. "Vamos chegar ao ponto de não poder usar mais nenhuma expressão. Não poderíamos ensinar a teoria de Darwin, que se refere ao homem como descendente do macaco."

Bom, preciso dizer que eles acabaram de “regaçar”? Nós estamos falando de um crime de injúria racial – aprendemos direitinho! O que deu na porra da cabeça da Mônica Bergamo ou de seus digníssimos colaboradores de colocar “Macaco na Jaula” e “Origem das espécies” nos títulos das notas, meu Senhor do Bonfim? Só pode ser tóxico, não tem outra explicação plausível pra isso. Fumaram crack e foram escrever!

Na primeira nota, há novamente a contextualização do caso, que não difere muito da chamada da Folha Online, a não ser pelo título criado sob efeito de drogas pesadas. "Macaco na jaula", dá pra comentar? Eu não consigo!

Mas na segunda nota, o que temos? Temos a pobre Teoria da Evolução das Espécies, de Darwin sendo utilizada para o quê? Para justificar injúria racial - nós já aprendemos!

Darwin deve ter dado piruetas no caixão. Isso é muito perigoso e sério! Durante muito tempo, uma séria de teorias fundamentadas em nome de uma pseudociência foram utilizadas para dizer que negros têm tendência ao crime, que são violentos, que são inferiores aos brancos!

Como é que se publica uma declaração destas sem a menor preocupação em explicar, esclarecer? Como é que se dá voz apenas ao acusado? Não é um princípio BÁSICO do jornalismo ouvir a porra das duas versões? Onde está a mulher, negra que sofreu a violência para dizer como se sentiu?

E podemos ir além. Podemos concluir que apesar de libertas, apesar da revolução sexual, do feminismo, a MULHER NEGRA continua literalmente sem voz.

Podemos concluir que além de injúria racial, a diretora foi sexista, porque talvez ela não tivesse falado “vem aqui, macaco” se o empregado fosse um homem negro.

Podemos dizer que houve abuso de poder, porque ela é a autoridade dentro da escola e, mais que isso, é quem determina as políticas de como o colégio deve agir em caso de racismo. Como será que esta diretora lidaria com uma questão racial entre os alunos? Que tipo de orientação seria dada?

Tudo isso não passou nem perto de ser abordado por qualquer uma das matérias. Podem argumentar que uma nota não teria espaço pra todas estas abordagens, mas não ouvir a vítima é imperdoável!

No curso que mencionei, trabalhamos com mais quatro grupos que pegaram textos parecidos e onde o indígena, a lésbica o negro, em nenhum momento é ouvido. Mas nós podemos fazer diferente. Hoje em dia, todos os veículos tomam cuidado para que crianças e adolescentes sejam reconhecidos em suas matérias. Usam o termo vulnerabilidade social, ao invés de estarem se drogando ou prostituindo. Foi fácil esta “educação”? Não, mas nós aprendemos. É importante que este cuidado passe a fazer parte de nossa rotina, enquanto jornalistas, afinal, está lá, em nosso código de ética, só pra refrescar a memória:

Art. 6º É dever do jornalista:

I - opor-se ao arbítrio, ao autoritarismo e à opressão, bem como defender os princípios

expressos na Declaração Universal dos Direitos Humanos;

II - divulgar os fatos e as informações de interesse público;

III - lutar pela liberdade de pensamento e de expressão;

XI - defender os direitos do cidadão, contribuindo para a promoção das garantias

individuais e coletivas, em especial as das crianças, adolescentes, mulheres, idosos,

negros e minorias;

XIV - combater a prática de perseguição ou discriminação por motivos sociais,

econômicos, políticos, religiosos, de gênero

Acho que diz tudo, né?


MULHER NEGRA continua literalmente sem voz

Obs: post inspirado no jeito como a Madrasta Texto Ruim critica matérias veiculadas na nossa malacabada grande mídia!


terça-feira, julho 12, 2011

O que não preciso

Eu não sou uma pessoa fácil! Eu penso demais, eu filosofo demais, eu quero respostas pra tudo e sofro quando não as consigo.

Eu sou exigente, alguns dizem que sou mimada. De qualquer forma, a pessoa é para o que nasce e eu sou assim:

eu gosto de sol, de dias quentes, de noites de lua cheia, eu gosto de praia e de cachoeira, sou filha de Oxum e Ogum, mas não deixo de me render aos encantos de Iemanjá e Xangô.

eu gosto de quadrinhos e meus personagens preferidos são a Mafalda e o Calvin.

eu quero ser mãe, sentir um filho crescer dentro de mim, mas também quero adotar uma criança.

eu gosto de ler, de ouvir música sozinha, adoro cinema e me encanto com o teatro. A dança é linda,mas pra mim só o caos da contemporânea. O clássico me enjoa!

eu gosto de saia e de vestido, eu adoro sentir meus pés livres em uma sandália e de andar por ai despenteada. Me sinto mais autêntica quando não penteio o cabelo.

eu gosto de chocolate e de sorvete. Eu como quase tudo, mas odeio mastigar salada.

eu prezo minhas amizades e sou leal a elas. Eu estou com você até o fim, se te considerar meu amigo.

eu gosto de político, prefiro falar dela a discutir futebol.

eu gosto do meu trabalho. Gosto de escrever e não me imagino ganhando a vida de outra forma.

eu gosto de rock, muito, mas minha vida não teria graça sem Caetano, Gil, Chico, Bethânia, Gal Costa, Calcanho e tantos outros.

eu não tenho saco pra esportes, não pratico – deveria - e só acompanho quando é copa ou olimpíada.

eu gosto de crianças, mas só as que não gritam. Gosto do sorriso delas e da lógica própria de ver o mundo. É divertido!

eu adoro bichos. Eu amo cachorros e gatos, mas acho que só os últimos têm o dom de ensinar você a viver com mais leveza, elegância e sutileza.

eu sou imediatista, não sei dar tempo ao tempo e sou punida por isso.

eu sou bipolar. Então às vezes acordo bem triste; às vezes acordo tão alegre que posso voar. É difícil, mas são meus momentos e tento conviver com isso.

eu mudo de opinião sobre um determinado assunto 25 vezes no dia, mas só quando eu não confio no que me disseram.

eu gosto da verdade, eu gosto de quem é verdadeiro comigo.

eu gosto de trepar, de beijar na boca, de abraçar, de dar carinho, de dar confiança, de dar lealdade, de me dar inteira.

eu achei que não pudesse mais gostar. Descobri que posso, mas tenho exigências!

eu preciso de vínculos, de estar próximo. Se não for deste jeito, me sinto incompleta e assim eu não quero!

eu não tenho problemas em me doar, desde que perceba que o outro está na mesma sintonia, fazendo o mesmo. Do contrário, eu não quero!

eu sou uma pessoa difícil. Esforçada, eu sempre tento melhorar, mas ainda assim sou difícil.

Nem sempre sei o que quero, mas com certeza, sei o que não preciso.