sábado, abril 08, 2006

O que é a velhice, não, minha gente?


Quando eu era mais jovem, sim, agora sinto que posso falar isso sem parecer uma piada, costumava caminhar muito. Sempre morei longe das escolas, acordava hiper cedo para não chegar atrasada e caminhava para economizar a passagem de ônibus, que era reservada para os dias de chuva.

Comecei a estudar com cinco anos, tarde para os parâmetros de hoje, então estas caminhadas eram pesadas para uma garota desta idade, apesar de eu ser, digamos assim, parruda! Mas eu não me importava, sempre gostei de caminhar pelas manhãs. Sentir o orvalho gelado no rosto que, aos poucos, ia ficando quente e vermelho, ouvir os pássaros cantarem e aproveitar o silêncio das ruas que, pelo menos em meu bairro, a Vila Ede, na sagrada Zona Norte, podia-se ouvir!

Quando fui para Bauru, a coisa piorou drasticamente, ou sejam, eu andava muito lá, aliás, boa parte de meus amigos eram verdadeiros atletas na arte do caminhar. E eu seguia sem reclamar. O ato fortalecia minhas pernas, fazia-me sentir forte, corajosa, quase uma mensageira da Grécia Antiga.

Porém, algo aconteceu nos últimos dias. Sempre quis uma moto, mas nunca a desejei tanto como nesta semana. Por quê? Porque eu andei muito, como uma camela no deserto, como um jegue no sertão. Eu caminhei, e caminhei e pela primeira vez senti que o vigor já não era o mesmo. Senti uma dor nas pernas que não existia antes. Senti uma exaustão que também não conhecia. Senti uma vontade danada de chegar em casa, tomar um banho quente e me jogar em meu colchão como se fosse a única coisa a fazer!

Céus, amo caminhar, mas o corpo já não é mais o mesmo, apesar de estar melhor agora, eu confesso sem falsa modéstia.

Ter 27 anos e se dar conta de que isso já pesa literalmente em suas pernas é assustador. Triste constatar e sentir que está envelhecendo.

Aparentemente, a vida é feita de pequenos sustos, pois que venham os outros! Estou envelhecendo, perdendo as forças nas pernas, mas minha coragem, ah, a minha coragem e dignidade ninguém tirará!!!

4 comentários:

Anônimo disse...

Quando vc se percebe na pracinha do bairro onde nasceu (há muuuuuuuito tempo atrás), jogando xadrez naquelas mesas de pedra fincada na terra, com o tabuleiro desenhado gasto, debaixo de uma jaqueira (torcendo prá nenhuma rolar)e relembrando como era bom os "tempos de outrora"... quando vc se pergunta "o que os garotos de hoje em dia estão ouvindo mesmo?" ... quando vc briga pela última fatia de marrom glacê da geladeira (não automática)... é hora de PARAR e REFLETIR!

Anônimo disse...

Olhar os pássaros cantando como faziam há ** anos atrás (ha-ha! pensaram que eu ia revelar minha idade avançada não eh? Vermes comunistas! Querem meu sangue!) e pensar: "QUE PORRA EH ESSA?" ("What the fuck!?")

Tá bom vai.. são quase cinco da tarde do sábado e eu não sou um velho ancião (tenho só 26 hein! ho-ho-ho). Também nunca joguei nas mesas de pedra (tão sempre lotadas porra! Os velhinhos de hj em dia são egoístas e bem mais fortes que antes. Tenta disputar com algum deles o lugar da frente do ônibus. Se for daqueles com "Lugar reservado para tal e tal" aí vc tá morto) e as jacas são fictícias. Foi tudo um devaneio. Mas lembrei que Lembrei das jacas porque tem um pé gigantão na casa do lado da minha. Que é igual sempre. O pé e a casa. A casa e o pé. Desde que nasci. Meu vô gostava de comer jaca. As cinzas dele foram jogadas num pé da fruta pela minha mãe, mas não lembro onde (não foi na casa do lado, porque ia ser bizarro)

Anônimo disse...

Isso é triste? Era. Costumava ser. O tempo vai dando um jeito. Hoje nem é mais. E nem esse comentário devia ser. Ou é. Ele ficou triste? Então abstraia e pense em coisas muito boas. Jogar xadrez na praça pode ser muito bom. Num gosto de jaca, mas o barulho delas caindo no verão do lado da minha casa (bOOM! boOOOM!) podem ser barulhos de pedras. As pedras no caminho. Como vamos esquecer que no meio do caminho tinha uma pedra. Que tinha uma pedra no meio do caminho?

Mais que isso. Como vamos esquecer que, com 26 ou 27 anos, podemos agora gostar do fato de que tenham pedras no meio do caminho?

Eu quero pedras, porque minhas mãos serão os instrumentos para martelar. Transformar mineral seco e em liçao aprendida ("a minha coragem e dignidade ninguém tirará")

Eh nóis Lu!

PS= Se me virem algum dia jogando xadrez na praça do meu bairro embaixo de uma jaqueira imaginaria... tragam algum alcoolico e se juntem com agente. Sem motivos prá ficar acanhado(a) fmz?

Beijo Lu!

Anônimo disse...

Isso é triste? Já foi. Agora não. O tempo vai criando uma crosta (beeeem melhor que Band-aid). Nem esse comentário tem intençao de ser triste. Não foi? Lembrei de uma coisa, acho que por isso lembrei das jacas: elas fazem um barulhão quando caem do pé, maduras, e arrebentam lá em baixo (bOOM! bOOOOM!)que lembram pedras rolando. Foi isso! As pedras.

Lembrei que no caminho tinha uma pedra. Que tinha uma pedra no meio da caminho. É piegas, eu sei. Mas que tinha, tinha. E não esqueci. Acho que nunca esquecemos. Somos uma fileira infinita de pedras no meio do caminho e de estórias fantasticas sobre como fizemos prá tira-las de lá.
Quero ter 26, 27, 28 porque agora eu sei que havia uma pedra-jaca no caminho. Antes, e muito antes, eu plantava pedras falsas. Fazia a curva sobre as verdadeiras. Só passando dos 25 prá ver realmente que há uma pedra no caminho (teoria minha hehe). E como é bom saber da pedra! Queremos agora a pedra!
Nossa mãos serão instrumentos que transformarão o mineral seco em lição aprendida: ("a minha coragem e dignidade ninguém tirará" neh Lu?)

Se nada disso funcionar, ainda vendem aquelas balas redondas de canela por aí. É só procurar

Beijo Lu!